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SUPOSTO MAPA VIKING DA AMÉRICA É UMA FALSIFICAÇÃO DO SÉCULO XX

Novas análises técnicas datam o Mapa de Vinland, encontrado na década de 1920, como sendo posterior a 1440 d.C., diferentemente do que fora sugerido anteriormente.


Suposto mapa viking da América é uma falsificação do Século XX.
Yale apresentou o Mapa de Vinland com grande alarde em 1965. Imagem: Domínio público via Wikimedia Commons

Parecia bom demais para ser verdade. Adquirido pela Universidade de Yale e divulgado com grande alarde em 1965, o Mapa de Vinland — supostamente datado na Europa como sendo de meados do Século XV — exibe parte da costa da América do Norte, evidenciando que os escandinavos medievais, não Cristóvão Colombo, como os verdadeiros "descobridores" do Novo Mundo.


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A ideia não era exatamente nova. Duas pequenas sagas islandesas contam a história das expedições vikings à América, incluindo a construção de assentamentos de curta duração, tentativas de comércio e batalhas vorazes contra os povos nativos na costa nordeste do continente. Descobertas arqueológicas feitas em Newfoundland na década de 1960 validaram esses relatos. Entretanto, esse mapa sugeria algo mais: indicava que o conhecimento das terras ocidentais era razoavelmente comum na Escandinávia e na Europa central, tendo os vikings, em vez de Colombo e seus apoiadores ibéricos, agindo como os arautos da era colonial.


Na era moderna, a descoberta europeia da América tornou-se um proxy para conflitos entre protestantes americanos e católicos, bem como entre os nórdicos que viam nos vikings, seus ancestrais, os descobridores, contra os europeus “sulistas” que apregoavam ligações com Colombo e monarcas da Espanha. Festejada na primeira página do New York Times, a descoberta do mapa pareceu solidificar a ideia de uma chegada nórdica pré-colombiana na mentalidade americana.


Acontece que o mapa era realmente bom demais para ser verdade. Em 1966, poucos meses depois de ter sido publicado, os estudiosos apontaram inconsistências com outras fontes medievais e levantaram dúvidas sobre onde o mapa teria estado nos últimos 500 anos. Além disso, um estudo conduzido no início dos anos 1970 sugeriu fortemente problemas com a datação original do mapa, embora pesquisadores externos questionassem essa descoberta com preocupações sobre a pequena amostra de tinta que foi testada, bem como uma possível contaminação. Os debates sobre a autenticidade do mapa continuaram nas décadas seguintes, levando Yale e outras instituições a conduzirem uma série de testes amplamente inconclusivos.


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Agora, um projeto de pesquisa interdisciplinar realizado por arquivistas, conservadores e cientistas da conservação provou, de uma vez por todas, que o mapa é falso. Muito distante da década de 1440. A análise dos metais na tinta do mapa revelou que o documento foi forjado na década de 1920.


“Não há dúvida razoável aqui”, disse Raymond Clemens, curador dos primeiros livros e manuscritos da Biblioteca Beinecke de Livros Raros e Manuscritos de Yale, que abriga o mapa, em um comunicado. “Esta nova análise deve encerrar o assunto.”


Desta vez, os especialistas usaram uma técnica chamada espectroscopia de fluorescência de raios-X para examinar a tinta usada em todo o mapa. A análise mostrou definitivamente que a tinta continha titânio, que só se popularizou na década de 1920. As varreduras também revelaram uma nota no verso do pergaminho, que foi intencionalmente alterada para fazer o documento parecer mais autêntico. “É uma prova poderosa de que esta é uma falsificação, não uma criação inocente de um terceiro que foi cooptada por outra pessoa, embora não nos diga quem cometeu a fraude”, disse Clemens no comunicado.


Textos medievais que mencionam Vinland, como os vikings chamavam a região, são uma amálgama de formas de contar clássicas histórias antigas vikings ou gregas ou romanas. As histórias que contam são espetaculares: rixas de sangue entre os vikings, rituais mágicos, batalhas entre os nativos e os vikings, além de intensas trocas mercantis. Nos últimos anos, as histórias das viagens vikings à América apareceram em filmes, videogames, mangás, animes japoneses e muito mais.


A tinta usada em todo o mapa contém vestígios de titânio, que só se tornou popular na década de 1920. Imagem: Universidade de Yale

Uma onda semelhante de nostalgia viking no início do Século XX pode ter inspirado um falsificador a criar o mapa supostamente medieval. Como diz Lisa Fagin Davis, diretora executiva da Academia Medieval da América e especialista em produção de manuscritos: “A motivação para falsificações de manuscritos é geralmente financeira ou política. No caso do Mapa de Vinland, ambos são perfeitamente possíveis”.


O primeiro registro do mapa data de 1957, quando um negociante o ofereceu ao Museu Britânico em nome de Enzo Ferrajoli de Ry com sede na Espanha. O Museu Britânico recusou a venda, suspeitando que o mapa era uma falsificação. Então, no início dos anos 1960, o negociante americano Laurence C. Witten III comprou o mapa por $ 3.500 e o ofereceu a Yale, que se recusou a comprá-lo por $ 300.000. Em vez disso, um rico ex-aluno, Paul Mellon, pagou pelo mapa e doou-o para a Universidade de Connecticut.


Em retrospecto, essa cadeia prolongada de eventos provavelmente deveria ter disparado o alarme. Witten manteve segredo desde o início sobre de quem ele conseguiu o mapa e como — provavelmente por um bom motivo. Antes que a descoberta fosse anunciada ao mundo, em novembro de 1964, o New York Times revelou que Ferrajoli de Ry havia sido condenado por roubo de manuscritos; o repórter questionou a legitimidade do relacionamento de Witten com o criminoso e, por conseguinte, dos manuscritos que ele havia vendido anteriormente para Yale.


Witten recontou a saga em 1989, alterando alguns pontos da história e admitindo que comprou o mapa diretamente de Ferrajoli de Ry, sem comprovar a procedência. Como o revendedor refletiu: “Por que eu não insisti em um pedigree? Minha resposta, só pode ser, que há trinta anos eu não tinha razão convincente para fazê-lo”. Ele acrescentou que a Europa do pós-guerra foi inundada com manuscritos vendidos por padres desesperados para cobrir dívidas e reconstruir suas igrejas.


Apesar de todas essas possíveis bandeiras vermelhas, os curadores de Yale trabalharam em estreita colaboração com os colegas do Museu Britânico para determinar a autenticidade do mapa. Eles dataram a década de 1440 com base, principalmente, no estilo de caligrafia e na suposta época em que o pergaminho teria sido escrito.


Fotografia de 1910 da Pedra Rúnica sw Kensington. Imagem: Domínio público via Wikimedia Commons

Se o mapa foi criado na década de 1920, ele teria se encaixado em um movimento cultural mais amplo que atendia a um ávido público americano. A falsificação seguiu de perto a descoberta do imigrante sueco Olof Öhman em 1898 de uma pedra rúnica esculpida em Minnesota. Öhman citou a rocha como prova de que os vikings viajaram para o interior, desde a costa e, coincidentemente, construíram comunidades na mesma área onde os imigrantes suecos e noruegueses do Século XIX se estabeleceram. Assim como com o Mapa de Vinland, os estudiosos ficaram céticos desde o início; portanto, as alegações sobre a Pedra Rúnica de Kensington, como é conhecida, persistiram por décadas, mesmo em face às evidências bastante claras de que o artefato é uma farsa.


Como a especialista em literatura medieval Dorothy Kim escreveu para a Time em 2019, os nacionalistas do Século XIX que buscavam criar mitos políticos e raciais se voltaram à Era Viking como sua fonte material. Poetas americanos compuseram novos épicos vikings e, em 1893, um capitão norueguês conduziu uma réplica de um navio Viking à Feira Mundial de Chicago, ganhando elogios em seu país de origem e entre os imigrantes escandinavos nos Estados Unidos.


Nas cidades do norte, grupos locais inspirados, pelo menos em parte, pelo sentimento anticatólico (e, posteriormente, anticolombo e anti-italiano) ergueram estátuas vikings. Não por acaso, o anúncio da aquisição do Mapa Vinland por Yale aconteceu na véspera do Dia de Colombo em 1965. Às vezes, o mito da América Viking pode parecer inócuo, mas a história sempre teve um potencial de exploração por aqueles que buscam reivindicar a história da América aos brancos.


Como acontece com quase todas as versões de nostalgia, as falsas visões dos vikings cresceram em torno de um cerne de verdade histórica. Como foi explicado no novo livro, The Bright Ages: A New History of Medieval Europe, o povo da Escandinávia medieval (popularmente chamada de vikings hoje) era de viajantes constantes. Por volta da virada do primeiro milênio d.C., eles invadiram as costas da França e da Inglaterra, depois cruzaram o Volga na Rússia, movendo-se para o sul para comercializar com os povos do califado abássida com base em Bagdá.


Não muito depois da "descoberta" do mapa, os arqueólogos encontraram um assentamento nórdico do Século XI em L'Anse aux Meadows em Newfoundland, confirmando que os vikings haviam viajado da Islândia à Groenlândia e depois até a costa canadense, durante esse período. Agora, o assentamento relativamente pequeno, é Patrimônio Mundial da Unesco, todavia é equipado para uma ocupação de longo prazo e ostenta os restos de três residências, uma forja e oficinas, provavelmente usadas para reparos de navios e marcenaria.


A presença dos vikings na América foi curta, confinada principalmente à Nova Escócia e (talvez) algumas regiões vizinhas. Depois de saltar por ilhas no Atlântico Norte, os nórdicos parecem ter se estabelecido, negociando e lutando contra tribos indígenas. Então, de acordo com as duas sagas medievais sobreviventes, que mencionam Vinland, essas comunidades sucumbiram às brigas internas e desintegraram.

Reconstrução de um barco Viking do assentamento de L'Anse aux Meadows. Imagem: Megan Em via Wikimedia Commons sob CC BY-SA 3.0

Em uma das sagas, uma mulher chamada Freydís (irmã do famoso Leif Eriksson) ajudou a defender a colônia viking, expondo os seus seios e esbofeteandos-o com uma espada para assustar os rivais indígenas. Na outra, a mesma Freydís assassinou vários de seus colegas colonos com um machado, fazendo com que o assentamento se desintegrasse e os sobreviventes retornassem à Groenlândia.


Essas histórias não são as que inspiraram a Pedra Rúnica Kensington ou o mapa de Vinland. Em vez disso, as bordas dessas histórias foram suavizadas, lavadas e reaproveitadas a serviço da política e da cultura do início do Século XX. Desesperados para minimizar o papel dos espanhóis, italianos e dos indígenas, alguns americanos procuraram no passado, determinados a encontrar o que queriam — mesmo que isso significasse inventar as fontes da história que desejavam contar.


FONTE: Smithsonian Magazine

MATTHEW. G; PERRY, D. Viking Map of North America Identified as 20th-Century Forgery. Smithsonian Magazine. Washington, 27 de set. de 2021. Disponível em: <https://www.smithsonianmag.com/history/medieval-map-of-north-america-identified-as-20th-century-forgery-180978751/>. Acesso em: 27 de set. de 2021. (Livremente traduzido pela Livros Vikings)


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