Muito além de amuletos: novas tecnologias revelam a vida secreta da Arte Antropomórfica Viking
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Muito além de amuletos: novas tecnologias revelam a vida secreta da Arte Antropomórfica Viking

Novas análises microscópicas em figuras da Era Viking revelam rituais de criação, uso intenso e quebras intencionais antes desconhecidos


Livros Vikings | Muito Além de amuletos: novas tecnologias revelam a vida secreta da Arte Antropomórfica Viking
Dez objetos antropomórficos icônicos da Era Viking. — Crédito da Imagem: Autores e O. Myrin, Swedish Historical Museums.

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Quando observamos as vitrines dos museus, repletas de pequenos tesouros de prata e bronze é fácil imaginar que aquelas peças sempre foram estáticas, meros adornos ou símbolos religiosos congelados no tempo. 


No entanto, a arqueologia moderna, munida de tecnologias avançadas, está reescrevendo essa narrativa. Um estudo recente analisou dez figuras antropomórficas icônicas da Era Viking (c. 750–1050 d.C.) encontradas na Suécia, incluindo as famosas "valquírias" e a estatueta de Rällinge.


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Em vez de perguntar apenas "o que essas figuras representam?", os pesquisadores agora questionam: "o que essas figuras faziam?". Por meio de análises de microdesgaste e Reflective Transformation Imaging (RTI), foi possível descobrir que esses objetos não eram passivos. 


Eles possuíam uma "vida social" ativa: eram tocados, polidos, embrulhados, escondidos e, em momentos cruciais, violentamente fragmentados. Este artigo convida você a olhar pelo microscópio e descobrir os segredos ocultos na superfície dessas pequenas obras-primas do mundo viking.


A ciência por trás da redescoberta da arte viking

Para desvendar a biografia desses objetos, a arqueologia viking abandonou suposições antigas e focou na materialidade. O estudo utilizou duas técnicas principais que funcionam como uma "autópsia" do metal:


  • Análise de Microdesgaste: permite identificar arranhões, polimentos e marcas de manuseio invisíveis a olho nu, revelando como o objeto foi tratado desde sua criação até o descarte;

  • Reflective Transformation Imaging (RTI): uma técnica computacional que captura a topografia da superfície sob diferentes ângulos de luz, revelando detalhes de decoração e desgaste que fotos comuns não conseguem mostrar.


Essas ferramentas permitiram aos pesquisadores enxergar além da iconografia. Descobriu-se que a fascinação acadêmica anterior em categorizar essas peças apenas como deuses nórdicos (como Óðinn ou Freya) ou valquírias acabou obscurecendo a complexidade de como os povos da Era Viking realmente interagiam com esses itens no dia a dia.


Livros Vikings | Traços de microdesgaste no objeto O3, a estatueta de Rällinge: A) estrias de fabricação; B) sulco abaixo do olho; C) sulco em espiral incompleto na parte superior das costas; D) linha curva única na parte inferior das costas. — Crédito da Imagem: C. Tsoraki e O. Myrin, Swedish Historical Museums.
Traços de microdesgaste no objeto O3, a estatueta de Rällinge: A) estrias de fabricação; B) sulco abaixo do olho; C) sulco em espiral incompleto na parte superior das costas; D) linha curva única na parte inferior das costas. — Crédito da Imagem: C. Tsoraki e O. Myrin, Swedish Historical Museums.

O processo de criação e a materialidade do corpo viking

A criação de um corpo em miniatura na sociedade viking não era um ato único e definitivo. As evidências mostram que a manufatura era um processo de múltiplos estágios, envolvendo escolhas deliberadas dos artesãos.


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As figuras eram fundidas, muitas vezes utilizando prata proveniente de Dirhams árabes derretidos, conectando a Escandinávia a redes de comércio globais. O estudo das dez figuras revelou que, após a fundição em moldes de argila (que eram quebrados para retirar a peça), os objetos passavam por acabamentos distintos:


  • Polimento Seletivo: algumas figuras, como as "valquírias" de prata, mostram polimento intenso tanto na frente quanto no verso, enquanto outras mantêm irregularidades da fundição na parte de trás;

  • Detalhamento Manual: a estatueta de Rällinge, por exemplo, teve detalhes como espirais e sulcos nos olhos aprimorados manualmente após a fundição. Curiosamente, algumas dessas espirais parecem incompletas, sugerindo que o ato de "fazer" o corpo viking poderia ser contínuo e não necessariamente finalizado em um único momento.


Isso indica que o brilho e a textura eram fundamentais para a experiência sensorial desses objetos. O metal não era apenas um suporte para a arte; ele era uma substância viva, reciclada e reconfigurada pelas mãos dos ourives da Era Viking.


Livros Vikings | Micrografias exibindo exemplos de dispositivos de fixação. — Crédito da Imagem: C. Tsoraki.
Micrografias exibindo exemplos de dispositivos de fixação. — Crédito da Imagem: C. Tsoraki.

Marcas de uso: como a “sociedade viking” interagia com suas miniaturas

Uma das descobertas mais surpreendentes deste estudo desafia a ideia de que todas essas figuras eram pingentes usados em colares. Embora nove dos dez objetos possuam dispositivos de suspensão, a análise microscópica dos anéis e orifícios conta uma história diferente sobre a moda e os rituais vikings.


  • Diversidade de Fixação: algumas figuras, como a peça catalogada como O9, apresentam estrias perpendiculares no anel de suspensão. Isso sugere que, em vez de oscilar livremente em um cordão, a peça estava amarrada firmemente contra outro material ou objeto. Outras peças mostram facetas de desgaste entre os pés, indicando que poderiam ter sido costuradas em tecidos ou fixadas de cabeça para baixo;

  • Ocultação e Toque: o desgaste arredondado nas bordas de certas figuras sugere que elas foram manuseadas extensivamente ou mantidas em bolsas, possivelmente embrulhadas em tecidos, em vez de expostas visualmente. Isso levanta a hipótese de que, para o povo viking, o poder desses objetos poderia residir no toque ou na presença oculta, e não apenas na exibição pública. A estatueta de Rällinge, por exemplo, é tão pequena que seus detalhes artísticos seriam quase invisíveis sem uma inspeção minuciosa, sugerindo um uso íntimo e tátil.


Fragmentação intencional e a morte do objeto viking

Talvez o aspecto mais intrigante revelado pela análise seja a relação entre corpos humanos e corpos metálicos no momento da quebra. Na mentalidade viking, objetos podiam ser "mortos" ou transformados, assim como as pessoas.


Livros Vikings | Traços de microdesgaste na cabeça de Aska: A–B) traços de percussão na base da cabeça; C) acabamento liso na crista interior do queixo. — Crédito da Imagem: C. Tsoraki; fotografia de Aska por O. Myrin, Swedish Historical Museums.
Traços de microdesgaste na cabeça de Aska: A–B) traços de percussão na base da cabeça; C) acabamento liso na crista interior do queixo. — Crédito da Imagem: C. Tsoraki; fotografia de Aska por O. Myrin, Swedish Historical Museums.

O estudo destaca dois casos emblemáticos:

  • A Cabeça de Aska (Objeto O1): frequentemente interpretada como um amuleto independente, a análise de microdesgaste revelou marcas de percussão na base do pescoço. Isso prova que a cabeça foi intencionalmente decepada de um corpo maior. Foi um ato deliberado de decapitação de uma efígie viking;

  • A Estatueta de Rällinge (Objeto O3): esta figura possui um braço quebrado. O exame mostrou que a área da fratura foi alisada e retrabalhada. Em vez de consertar o membro ou descartar a peça, o proprietário escolheu curar a "ferida" do objeto, mantendo-o em uso mesmo amputado.


Essas práticas ecoam rituais funerários onde restos humanos eram fragmentados, sugerindo uma ontologia onde corpos — sejam de carne, sejam de metal — eram partíveis e transformáveis.


Desafiando os estereótipos de gênero na arqueologia viking

Por décadas, assumiu-se que pingentes representando figuras femininas (as chamadas valquírias) eram adornos exclusivos de mulheres, associados a papéis de fertilidade ou proteção doméstica.


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As novas evidências pedem cautela com essas categorias modernas projetadas no passado viking. A análise contextual mostra que:


  • Muitas dessas figuras foram encontradas em tesouros ou como achados isolados, sem associação direta com corpos femininos em sepulturas;

  • A figura O7, uma "valquíria" dourada, foi encontrada em um enterro contendo restos humanos geneticamente determinados como masculinos.


A suposição de que "joias são femininas" ignora a complexidade da identidade na Era Viking. Se as valquírias eram entidades que guiavam guerreiros ao Valhalla, não seria lógico que guerreiros homens também as portassem?


Livros Vikings | Mapa apresentando a distribuição dos artefatos. — Crédito da Imagem: K. Eriksen.
Mapa apresentando a distribuição dos artefatos. — Crédito da Imagem: K. Eriksen.

Os dados sugerem que esses objetos transitavam por esferas muito mais fluidas do que a simples dicotomia "homem-guerreiro" e "mulher-dona de casa". Eles eram agentes ativos em negociações de poder, proteção e identidade que transcendiam o gênero biológico.


As descobertas trazidas pela microscopia e pela tecnologia RTI transformam nossa compreensão da arte antropomórfica viking. Estes não eram apenas símbolos passivos de deuses distantes, mas objetos "intra-ativos" que participavam dinamicamente da vida de seus donos. Eles eram polidos, amarrados, escondidos, tocados e até mesmo sacrificados.


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Ao olhar para além da forma e focar nas marcas deixadas pelo tempo e pelo uso, percebemos que a relação entre o povo viking e seus objetos era de profunda interdependência. 


Cada arranhão e cada fratura contam uma história de crença, cuidado e ritual que os livros de história tradicionais, focados apenas na iconografia, muitas vezes deixaram escapar.


Este artigo foi parcialmente criado por Inteligência Artificial (IA). Para mais notícias sobre achados arqueológicos e história, continue acompanhando a Livros Vikings. Somos um portal dedicado a trazer informações históricas e curiosidades sobre a Era Viking. Se você gostou deste artigo, compartilhe-o em suas redes sociais!


Referências

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