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A vila viking perdida de Kaupang

Atualizado: 3 de mai. de 2023

A literatura nórdica antiga está repleta de nomes de cidades, fazendas e fiordes. Embora muitos desses nomes tenham sobrevivido, tornando as suas descobertas relativamente simples, outros desapareceram na obscuridade.


A vila viking perdida de Kaupang
O local da antiga Vila Viking de Kaupang, um ponto turístico, que é um centro de conhecimento, onde os visitantes podem aprender sobre a Era Viking, bem como técnicas e processos arqueológicos. — Imagem: J. P. Fagerback, BSD
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Kaupang, uma cidade portuária norueguesa, supostamente localizada dentro de um distrito maior conhecido na literatura como “Skiringssal” é um exemplo. Séculos de pesquisas e explorações foram necessários para localizar o “lendário” assentamento Viking de Kaupang, mencionado na “Viagem de Otáro (Ottar ou Othere)”. Tal descoberta muito contribuiu à nossa compreensão da história nórdica. Mas, o que levou os pesquisadores à localização da vila viking perdida?


A Kaupang baseada na Viagem de Otáro e nos Sete Livros

Estudiosos da história nórdica antiga analisaram os Sete Livros de Paulus Orosius (um sacerdote do Século V), escritos para contrariar as alegações feitas por outros grupos religiosos de que a disseminação do cristianismo resultou em tragédia e calamidade por todo o mundo. A história foi traduzida e atualizada com mais informações no final do Século IX, durante o reinado de Alfredo, em apoio aos emergentes ideais anglo-saxões.


É nesta versão atualizada que encontramos a Viagem de Otáro, um relato da exploração viking ao Mar Branco, Inglaterra e Dinamarca, conduzida por Otáro de Hålogaland (Ottar fra Hålogaland). Otáro menciona um porto, que ele chamau de “Sciringes-heal” — uma aliteração de Skíringssalr do Nórdico Antigo —, relacionado à dinastia Yngling, uma linha historicamente significativa de reis noruegueses. Essas fontes, no entanto, descrevem Skiringssal (Skíringssalr) como um distrito, não um local singular.


Apesar de inúmeras referências em várias fontes, a localização de Skiringssal e o porto observado por Otáro permaneceram um mistério por muito tempo, assim como a questão do que ambos exatamente eram. Os estudiosos mergulharam mais fundo na história nórdica e foram necessários mais de duzentos anos de pesquisa para desvendar o mistério.

Mapa que mostra parte das rotas existentes no Noroeste da Europa durante a Era Viking (entre 790 e 1100 d.C.), incluindo os polos comerciais de Hedeby, Ribe, Birka e Kaupang. — Imagem: Brianann MacAmhlaidh / CC BY-SA 4.0

O processo de localização de Kaupang

O trabalho de localização de Skiringssal começou a sério no Século XVIII sob o comando de Gerhard Schøning, quem primeiro o identificou como um local de sepultamento real.


Em 1802, o historiador sueco Jakob Fredrik Neikter tornou-se o primeiro estudioso a conectar Skiringssal com o “Sciringes-heal”, nomeado por Otáro.


Jens Kraft avançou ainda mais a pesquisa, quando postulou que Skiringssal estava na Paróquia de Tjølling, com base em dois documentos do Século XV que ele havia descoberto. Criticamente, Kraft também observou que uma fazenda em Tjølling com o nome de Kaupang era também o lar de uma antiga vila comercial.


O historiador Gerhard Munthe mais tarde combinou as fontes nórdicas com o relatório de Otáro e o trabalho acadêmico de Kraft, concluindo que Kraft estava correto em sua afirmação.


Em 1850, Peter Andreas Munch, um notável historiador, publicou seu artigo sobre Skiringssal. Com base no trabalho de Munthe, ele argumentou que Kaupang era o nome de uma vila comercial, enquanto Skiringssal era o nome de um distrito maior. Para explicar a discrepância entre as descrições das fontes, Munch apontou que os nórdicos de outrora tinham uma convenção de nomenclatura para centros comerciais, que combinava o nome da cidade com o do distrito.


Os moradores possivelmente usavam apenas o nome da cidade, enquanto os forasteiros muitas vezes encurtam o nome, usando apenas o distrito. Foi nesse ponto que a questão de onde Kaupang e Skiringssal estavam parecia concluída. A atenção acadêmica então mudou para o propósito do local, e os historiadores foram substituídos pelos arqueólogos.


Mapa da localização de Kaupang (CC BY-SA 3.0)

Os arqueólogos de Kaupang encontraram respostas e mais perguntas

Em 1867, o arqueólogo Nicolay Nicolaysen tornou-se o primeiro a realizar escavações em torno de Kaupang. Ele esperava descobrir o local do enterro de Gudrød, o Rei Caçador, um dos Reis Yngling. Nicolaysen ficou, no entanto, desapontado. Sua busca não resultou em túmulos reais e, tampouco, de valor histórico significativo. Outras explorações e descobertas arqueológicas na área tiveram um hiato de cem anos.


Foi então que em 1947, quando trabalhadores agrícolas cavavam para plantar nabos, que artefatos arqueológicos foram desenterrados por acidente, reiniciando o trabalho de pesquisa. Sob a direção de Charlotte Blindheim, uma grande exploração foi realizada pelas décadas seguintes.


Em 1957, uma densa concentração de sepulturas foi encontrada em um cume de pedra conhecido como Bikjholberget, contendo uma variedade de mercadorias importadas. Blindheim concluiu que deveriam ser sepulturas de mercadores e começou a localizar o famigerado assentamento.


Em 1976, a Vila foi desenterrada por inteiro e Blindheim a declarou como o porto mencionado por Otáro.


Finalmente, de 1998 a 2003, uma equipe arqueológica explorou ainda mais o local para interpretar os achados. Eles buscavam responder as inúmeras perguntas que persistiam.


A descrição de John Snow sobre a importante cidade comercial viking de Kaupang. — Imagem: John Snow / The Slayer Rune

Nossa compreensão moderna de Kaupang

O trabalho feito por Dagfinn Skre e sua equipe na década de 2000 concluiu que Kaupang era um assentamento permanente, estabelecido por volta do ano 800 d.C. e abandonado no Século X.


Durante sua vida, entre 400-800 d.C., as pessoas chamavam o porto de lar e trabalhavam como comerciantes e artesãs. Os achados arqueológicos foram extensos e variavam de origem, muitos deles sendo da Pérsia, Rússia, Índia, Báltico, dentre muitas outras localidades. Evidências de bens saqueados também sugerem que Kaupang teria sido uma área de preparação, de onde os saqueadores vikings lançavam os seus ataques.


A cidade foi fundada quase à sombra do Skirings-sal, um salão/sede do poder real, localizado nas proximidades de Huseby. O salão está situado no topo de um penhasco em uma plataforma artificial de pedra — um estilo de construção que não havia sido encontrado anteriormente na Noruega — e pode ter sido o lar do primeiro Rei Yngling, Halfdan, o Perna Branca. Os arqueólogos acreditam que o salão veio antes de Kaupang, e que o assentamento comercial provavelmente foi fundado no local devido à sua proximidade com um lago sagrado, o qual servia de ponto de encontro e centro de poder dos Reis Yngling.


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Não há certeza sobre o porquê de Kaupang ter sido abandonado. As teorias são abundantes, com alguns estudiosos acreditando que o estabelecimento de outros centros comerciais ser o principal culpado, enquanto outros argumentam que um declínio nas atividades pagãs em meio à maré crescente do cristianismo causou o desaparecimento do assentamento.


Independentemente disso, é certo que Kaupang foi um assentamento historicamente significativo, que permaneceu envolto em mistério por séculos. Um importante centro de comércio, poder real e influência viking, que foi descoberto somente após 200 anos de trabalho acadêmico e um pouco de sorte.


Séculos de estudos linguísticos, históricos e arqueológicos foram necessários para localizar a vila que muitos acreditavam ser simplesmente uma fábula.


O local da cidade velha é agora um centro de conhecimento onde os visitantes podem aprender sobre a Era Viking, bem como sobre técnicas e processos arqueológicos.



FONTE: Ancient Origins

Johnston, Mark. An Archaeological Needle in the Haystack: The Viking Village of Kaupang. Ancient Origins. Dublin, 12 de jul. de 2022. Disponível em: <https://www.ancient-origins.net/ancient-places-europe/kaupang-norway-0017007>. Acesso em: 14 de jul de 2022. (Livremente traduzido pela Livros Vikings)


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