Os vikings são conhecidos em todo o mundo por sua conquista brutal e estilo de vida nômade rude, mas novas pesquisas revelaram um lado mais suave desses guerreiros mortais, sugerindo que eles também poderiam ter gostado de alguns luxos.
Ao analisar cuidadosamente dois enterros em navios funerários de 10 metros de comprimento, datados dos Séculos VII e VIII, dois pesquisadores noruegueses descobriram, ao lado de armas, ferramentas e capacetes adornados, exemplos de colchas de penas preservadas sob os guerreiros enterrados.
Mais do que apenas uma forma de mimar os vikings caídos, a pesquisa sugere que essa roupa de cama — e, particularmente, as penas encontradas dentro dela — poderia desempenhar um papel importante para garantir a passagem mais rápida e segura ao Valhalla.
A pesquisa foi publicada em abril no Journal of Archaeological Science: Reports.
“A ESCOLHA DAS PENAS NA CAMA PODE TER UM SIGNIFICADO SIMBÓLICO MAIS PROFUNDO”.
O que há de novo — os arqueólogos têm uma série de truques na manga para voltar no tempo e investigar povos antigos, seja por datação de carbono ou por amostragem fecal, mas os autores desta nova pesquisa escreveram que o estudo das penas de sítios arqueológicos tem, até agora, sido uma técnica subutilizada.
Birgitta Berglund é a primeira autora do estudo e professora emérita de arqueologia do Museu da Universidade NTNU - Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia. Ela disse em um comunicado que essas penas podem ajudar os pesquisadores a entenderem de uma nova maneira a vida íntima dos povos antigos.
“As penas fornecem uma fonte de novas perspectivas sobre a relação entre os humanos e os pássaros do passado”, disse Berglund. “Escavações arqueológicas [típicas] raramente encontram vestígios de pássaros, além daqueles que eram usados para alimentação”.
“Também achamos que a escolha das penas na cama pode ter um significado simbólico mais profundo. É emocionante”, disse ela.
Por que isso importa? Identificar o tipo de penas usadas na cama dos vikings há muito tempo mortos parece um detalhe trivial, mas Berglund argumenta que pode, de fato, lançar luz sobre vários aspectos diferentes da vida viking, a partir dos animais que eles domesticavam e comercializavam, tal qual a maneira com que eles se preparavam para a vida após a morte.
Essa percepção pode fornecer uma potencialmente mais terna e nova forma de entender a vida interior dos vikings e a sua conexão com os seus ancestrais.
O que eles fizeram — embora as penas sejam um rico recurso arqueológico, há uma razão para que ainda não sejam altamente utilizadas: desembaraçar penas de mais de 1000 anos de um edredom de penas viking não é uma tarefa fácil.
“Foi um trabalho demorado e desafiador por vários motivos”, explicou o coautor do estudo e biólogo do Instituto Norueguês de História Natural (NINA), Jørgen Rosvold, no mesmo comunicado.
“O material está decomposto, emaranhado e sujo. Isso significa que muitas das características especiais que você pode observar facilmente em um material novo se tornaram indistintas, e você tem que gastar muito mais tempo procurando por essas características", disse Rosvold.
No entanto, Berglund disse que ainda é impressionante as penas terem sido preservadas tão bem e por mais de 1.000 anos.
Depois de desembaraçar as penas, Rosvold e Berglund foram capazes de usar a análise microscópica para:
Identificar os tipos de animais aos quais as penas pertenciam e descobrir que eles eram em grande parte locais, em vez de importados;
Descobrir uma mistura de penas. Um usava penas de galinha domesticadas ou penas de coruja, enquanto o outro era principalmente recheado com penas de ganso, semelhante ao padrão atual.
Mais do que apenas um descuido ou uma coincidência, a equipe escreve que essas escolhas podem refletir como esses guerreiros eram vistos pela sociedade viking.
“As pessoas acreditavam que o uso de penas de galinhas domésticas, corujas e outras aves de rapina, pombos, corvos e esquilos prolongava a luta contra a morte”, explicou Berglund. “Em algumas áreas escandinavas, as penas de ganso eram consideradas as melhores, pois permitiam que a alma fosse liberada do corpo”, disse ela.
Combinadas com a coruja e os cavalos encontrados nos navios, esta mistura curada de penas de ganso pode sugerir que um dos vikings estava preparado para cavalgar com confiança ao Valhalla — enquanto o outro pudesse ser destinado a tropeçar na entrada.
O que vem a seguir? Quando se trata da Era Viking e de outras sociedades antigas, grandes descobertas podem ser feitas, usando o mais ínfimo dos detalhes, do DNA à estrutura microscópica das penas.
“[As] penas trarão novas perspectivas para os estudos da antiga vida humana e da natureza e, não menos importante, da relação entre o homem e os pássaros”, escreveram os autores.
FONTE: Inverse
WELLS, Sarah W. Ancient finding adds an unexpected twist to the viking afterlife myth. Inverse. Nova Iorque, 10 de mai. de 2021. Disponível em: <https://www.inverse.com/innovation/the-vikings-loved-a-soft-down-bed>. Acesso em: 11 de mai. de 2021. (Livremente traduzido pela Livros Vikings)
Seja uma das primeiras pessoas a receber as novidades do Mundo Viking, assinando a nossa Newsletter ou adicionando-nos em seu WhatsApp... Siga-nos nas Redes Sociais.