Os berserkir brutais, ataques respingados de sangue e os atos bárbaros de guerra são os aspectos da cultura e da mitologia viking, que dominaram a nossa imaginação coletiva por séculos. Mas, focar apenas nesses tropos, não retrata o quadro completo de como era realmente a vida dessas pessoas que vieram da Escandinávia no início da Idade Média. Há muito mais para entender sobre os vikings do que violência e a pilhagem — tal qual as descobertas e os projetos de pesquisa realizados em toda a Grã-Bretanha e ao redor do mundo.
Com a aparência assustadora e a reputações ainda mais feroz, é fácil ver o porquê de os vikings intrigarem o público e o mundo acadêmico ao longo dos anos. Na última década, a popularidade de séries de TV como a de Michael Hirst, Vikings, impulsionou esses navegantes escandinavos ainda mais à vanguarda de nossa imaginação coletiva — atraindo adultos e jovens. Seu traje distinto é um favorito contínuo de cosplayers e fanáticos por fantasias (embora um verdadeiro recriador que se preze, saiba que adicionar chifres a uma fantasia de viking é historicamente impreciso!)
É claro que os vikings ocupam um lugar especial em nossos corações. Mas, o que realmente sabemos sobre as suas vidas? Essas cinco descobertas vikings notáveis da Grã-Bretanha oferecerão algumas dicas:
1) A escavação de Coppergate (1976 a 1981) em York
Uma evidência sugere que os vikings poderiam ter se convertido ao cristianismo muito antes do que se pensava.
A descoberta de uma 'cidade viking perdida' sob as ruas de York ganhou as manchetes de todo o mundo na década de 1970. Achados arqueológicos da Era Viking já haviam sido descobertos e, em grande parte, por acaso — mas, tudo isso mudou quando o conselho municipal propôs a reconstrução de Coppergate, uma das ruas medievais da cidade. Uma pequena escavação liderada pelo York Archaeological Trust havia destacado que a área tinha um potencial arqueológico notável — e eles não estavam errados. Poucos dias depois do trabalho de reconstrução de Coppergate, raros vestígios de construções vikings foram descobertos.
Uma escavação de grande porte foi organizada. Entre 1976 e 1981, uma equipe de 12 escavadores profissionais e dezenas de arqueólogos amadores desenterraram 40.000 artefatos no local. Entre as descobertas estavam cinco toneladas de ossos de animais, milhares de telhas romanas e medievais, além 250.000 peças de cerâmica.
O que as descobertas nos dizem sobre os vikings de York?
Uma descoberta fascinante sugeriu que os vikings se converteram ao cristianismo relativamente cedo em sua colonização na Grã-Bretanha. Sabemos que os primeiros vikings a chegarem à Grã-Bretanha adoravam os antigos Deuses Nórdicos, no entanto, os restos de uma igreja medieval da Era Viking em Coppergate sugerem que eles poderiam ter adotado o cristianismo bem cedo.
Outros achados notáveis das escavações de Coppergate destacam a influência verdadeiramente global dos vikings, com objetos vindos da Noruega, da Renânia, do Báltico, do Uzbequistão e do Mar Vermelho.
Embora a escavação de Coppergate já tenha sido concluída há muito tempo, seus artefatos estão disponíveis para visualização em uma experiência histórica que visa replicar a aparência do assentamento viking original — Jorvik.
2) O tesouro Cuerdale de Lancashire
Um tesouro que sugere as atividades globais dos vikings.
O tesouro de prata Cuerdale foi descoberto há mais de 150 anos, sendo considerado o maior tesouro viking já encontrado na Inglaterra. Foi descoberto em 1840, quando trabalhadores de Lancashire encontraram um baú de chumbo, enquanto trabalhavam para consertar a barragem do rio Ribble em Cuerdale, perto de Preston.
Contendo mais de 30 kg de ouro e impressionantes 7.000 moedas, o tesouro é notável por destacar a escala internacional da atividade viking. Acredita-se que tenha sido depositado por volta de 905 d.C., e seu conteúdo pode ser rastreado até lugares como a Irlanda, o Oriente Médio e o reino franco (a França moderna).
A prata era uma moeda comum no mundo viking — e o tesouro de Cuerdale representa uma riqueza surpreendente (mesmo para os padrões modernos). Existem várias teorias sobre o seu propósito; um notável sugere que era um baú de guerra coletado por vikings que haviam sido expulsos de Dublin. O Vale do Ribble era uma rota principal entre York e o Mar da Irlanda, e alguns especialistas acreditam que o tesouro pode ter sido parte de um plano para reocupar Dublin.
3) O tesouro Watlington de Oxfordshire
Onde uma moeda rara destaca a aliança entre dois governantes.
Uma descoberta mais recente que expandiu a nossa compreensão da cultura Viking é o tesouro de Watlington. A surpreendente coleção de prata viking foi descoberta pelo detector de metais amador James Mather no campo de um fazendeiro em Watlington, Oxfordshire em 2015. Ela contém 186 moedas (nem todas intactas), 15 lingotes e sete peças de joalheria, que datam de algum tempo depois da batalha de Edington (maio de 878 d.C.), uma vitória decisiva de Alfredo, o Grande (de Wessex) contra os vikings.
Talvez o achado mais notável entre o tesouro seja o centavo "Dois imperadores", do qual há 13 exemplares. As moedas retratam dois imperadores (supostamente Alfredo, o Grande e o menos conhecido Ceolwulf, o último rei da Mércia) governando lado a lado. As moedas contradizem a narrativa tradicional de que Ceolwulf foi um 'fantoche dos vikings', oferecendo uma potencial nova compreensão deste período chave da história viking na Inglaterra.
“As moedas indicam que os centavos de Alfred e Ceolwulf provavelmente foram arrancadas em grande número, denotando uma aliança não passageira”, explica John Naylor, consultor nacional de achados do Museu Ashmoleon, onde o tesouro de Watlington agora é exibido. “As chances são de que tenha sido enterrado por um membro do exército viking durante a sua jornada à Ânglia Oriental. Na verdade, o tesouro pode ter sido parte do acordo de paz firmado entre Alfred's Wessex e os vikings de Guthrum, após o grande confronto em Edington”,
4) O xadrez de Lewis, Escócia
Um jogo de xadrez medieval revela como os vikings alcançavam as suas habilidades sobrenaturais.
Aqueles que estão familiarizados com a franquia Harry Potter reconhecerão as peças de xadrez de Lewis do desenlace do primeiro filme, quando os três personagens principais — Harry, Ron e Hermione — lutam contra um violento jogo de xadrez de tamanho real que é a réplica ampliada das peças de xadrez de Lewis.
Descoberto nas dunas de areia da Ilha de Lewis, parte das Hébridas Exteriores, em 1831, este tesouro de peças de xadrez norueguês é considerado uma das descobertas arqueológicas mais significativas já feitas na Escócia. Existem 93 peças na coleção Lewis Chessmen, que se acredita serem de pelo menos quatro conjuntos de xadrez diferentes, além de alguns jogos adicionais. Pensa-se que foram feitas no final do Século XII ou início no Século XIII na Noruega, mas ninguém sabe ao certo a quem pertenciam. Uma teoria sugere que as peças — feitas de marfim de morsa intrincado e dente de baleia — foram esculpidas em Sk ál holt, Islândia, por Margret, o Adroit, esposa de um padre que era considerada “a escultora mais habilidosa” do país.
Ao contrário das outras descobertas nesta lista, as peças de xadrez de Lewis não datam especificamente da Era Viking. No entanto, as peças de xadrez são dignas de nota pela forma como prestam homenagem à cultura nórdica, com a torre assumindo a forma de um berserkr, um tipo lendário de guerreiro viking, associado ao Deus Odin.
Contos sobre os berserkir e suas façanhas épicas frequentemente aparecem em sagas e poemas escáldicos compostos nas cortes dos líderes escandinavos e islandeses durante a Idade Média e Era Viking. Entretanto, esses guerreiros realmente existiram? Sim — de acordo com o historiador Kim Hjardar:
“A descrição dos berserkir e das 'peles de lobo' nas fontes estão no limite entre fantasia e realidade, e é difícil para nós hoje imaginar que tais pessoas possam ter existido, possuidoras de um poder destrutivo incontrolável. Porém eles existiram. Os berserkir e as peles de lobo (também conhecidos como 'lobos pagãos') eram um grupo especial de guerreiros muito habilidosos e perigosos associados ao deus Odin”, escreveu ele em um artigo de 2016 ao HistoryExtra.
As possíveis explicações às suas habilidades sobrenaturais vão desde comer cogumelos psicodélicos até a dissociação psicológica, que permitia ao indivíduo perder o controle de suas ações. O guerreiro Lewis Chessmen é particularmente fascinante, porque ele é esculpido mordendo o seu escudo — que alguns acreditam ser parte de um ritual Berserkr pré-batalha que os permitir atingir um estado de transe.
5) O guerreiro de Repton, Derbyshire
Um enterro viking sugere que invadir era um negócio de família.
Não se sabe muito sobre o 'guerreiro de Repton', mas o que é certo é que ele encontrou um fim terrível; o homem viking foi encontrado na década de 1980 com um corte na perna, o qual provavelmente cortou o seu pênis. Apelidado de "o mais conhecido cemitério viking da Inglaterra" pelo historiador Cat Jarman em uma edição recente da BBC History Magazine, o corpo do guerreiro viking do Século IX foi encontrado lado a lado com o de outro homem mais jovem na vila de Repton, em Derbyshire, na década de 80.
Possíveis teorias sobre a identidade dos dois homens variaram ao longo dos anos; inicialmente pensava-se que o mais jovem dos dois era o portador da arma do guerreiro de Repton (morto, talvez, para ajudar o seu mestre na vida após a morte). Mais recentemente, no entanto, a análise de DNA revelou que os dois eram parentes de primeiro grau, dando crédito à teoria de que eles eram líderes do Grande Exército Pagão que aterrorizou a Inglaterra nas décadas de 860 e 870 d.C. Como Cat Jarman supõe: As invasões vikings podem ser “um negócio de família”.
FONTE: History Extra
5 KEY Viking discoveries in Britain – and what they reveal about how the Vikings really lived. History Extra. Londres, 01 de jun. de 2021. Disponível em: <https://www.historyextra.com/period/viking/viking-discoveries-finds-britain-archaeology-life/>. Acesso em: 04 de jun. de 2021. (Livremente traduzido pela Livros Vikings)
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