A Era Viking na Europa trouxe muitos eventos e inovações importantes, moldando muito o futuro. Mas, há um equívoco popular de que os vikings só se preocupavam em saquear e atacar, enquanto navegavam para o leste e oeste. Embora eles navegassem por toda parte e invadissem, comercializassem e colocassem reinos de joelhos, os vikings também eram proficientes em muitos outros aspectos.
Seus principais portos e assentamentos ao redor da Escandinávia eram, em muitos aspectos, centros de comércio e riqueza — e Birka era um dos maiores assentamentos. Como um empório comercial influente, Birka era o lugar onde todas as mercadorias da Europa e do Oriente eram manuseadas, bem como as da Escandinávia e da Finlândia. Hoje, as suas ruinas estão a apenas 30 quilômetros da capital sueca, Estocolmo.
O que sabemos sobre a antiga Birka?
As ruínas da antiga cidade de Birka estão localizadas na pequena ilha de Björkö, no Lago Mälaren, a cerca de 30 quilômetros (18,64 milhas) da capital da Suécia, Estocolmo. A ilha mede aproximadamente 1,5 por 1,5 km (0,93 x 0,93 milhas) e está repleta de vestígios arqueológicos importantes. É claro que os remanescentes do assentamento de Birka são talvez os mais importantes entre os que estão situados na costa noroeste da ilha.
Birka não é o único sítio arqueológico na área. O lago é repleto de ilhas e a ilha vizinha Adelsö também abriga os restos de um importante centro comercial viking. Esses vestígios são vislumbres importantes das redes comerciais bem desenvolvidas da Era Viking na Suécia.
Entretanto, enquanto Birka foi um centro comercial e uma das cidades mais importantes da época, o assentamento na vizinha Adelsö era supostamente a residência real, de onde os reis e chefes governavam a área.
As evidências históricas nos dizem que o assentamento de Birka (conhecido como Birca na Idade Média) foi fundado por volta de 750 d.C. Seu nome provavelmente está relacionado ao nome da ilha — Björkö — que significa “Ilha do Vidoeiro”. Alguns estudiosos propõem que ela evoluiu de um assentamento pequeno para um centro comercial.
No entanto, outros propõem que foi “construída propositadamente” por um rei, a fim de controlar o comércio da região e expandir a sua influência. No entanto, concorda-se que Birka é um dos primeiros assentamentos urbanos da região e de toda a Escandinávia. O Lago Mälaren, no qual está situada, deságua no Mar Báltico e, portanto, tem excelente posição estratégica.
A própria capital, Estocolmo, está localizada na região, indicando que a área foi fundamental para o controle regional. É por isso que Birka rapidamente emergiu como uma parada crucial na famosa rota comercial dos vikings. Era um dos principais centros comerciais da Escandinávia e recebia mercadorias de toda a Europa e do Oriente, na qual os vikings — principalmente os varangianos — se reuniam em suas expedições.
Quando vemos os mapas, podemos notar que as posições do lago e de Birka as tornam uma ótima parada no caminho das rotas de navegação pelo rio Velikaya, Lago Ladoga e em direção aos principais centros comerciais eslavo-vikings de Novgorod e Gnezdovo.
Como centro comercial, Birka negociou muitos produtos —, desfrutando também de grande prosperidade. Uma extensa pesquisa arqueológica conseguiu fornecer boa visão sobre a natureza dos bens que por lá passaram. Birka oferecia principalmente produtos de ferro e peles de qualidade. Esta última era naturalmente um bom suprimento — era importado das partes do norte da Escandinávia, dos Sami e dos Finlandeses, bem como das tribos fino-úgricas e eslavas das regiões noroeste da Rússia de hoje.
Os achados indicam que essas peles eram de castores, raposas, ursos, martas (mamífero de pequeno porte — informação adicional pela Livros Vikings) e lontras. Além disso, os produtos de chifre também tinham boa demanda. Muitos itens e utensílios importantes eram feitos de chifres de rena, como pentes, agulhas e talheres. Alguns achados mais esporádicos indicam a presença de dentes de morsa, mel e âmbar — geralmente adquiridos da “Terra de Amber”, uma região nas margens do Mar Báltico, habitada pelos ferozes curonianos.
Das Terras do Oriente às Terras dos Eslavos
Em troca desses diversos produtos — quase sempre em demanda — os comerciantes de Birka recebiam diversos conteúdos importados. Durante esse período, muitos dos itens exóticos do Império Bizantino, do Mediterrâneo e do Oriente foram procurados e valorizados pelos membros mais ricos da sociedade viking — muitas vezes como um sinal de status. Os túmulos que cercam a área de Birka fornecem um vislumbre da variedade de mercadorias trocadas ali.
Por exemplo, uma grande variedade de moedas foi descoberta: a maioria delas é da Escandinávia como um todo, como Hedeby — outro centro comercial importante dos vikings, só que dinamarqueses. Surpreendentemente, há bastantes Dirhams (ou Dracmas ) de prata do califado abássida, o qual ficava bem a leste, mostrando a extensão das explorações vikings e suas elaboradas redes de comércio. Também há boa quantidade de moedas bizantinas, inglesas e carolíngias.
No total, cerca de 3.000 túmulos foram encontrados ao redor de Birka, e muitos deles renderam valiosas mercadorias. Grandes quantidades de âmbar foram descobertas: esta era uma mercadoria procurada e de status enfatizado. Diz-nos que Birka era um centro próspero com habitantes ricos.
Fragmentos têxteis também foram descobertos em grandes quantidades em Birka. Como sabemos, os têxteis raramente sobrevivem à passagem do tempo e podem se deteriorar completamente. Por outro lado, em Birka, os arqueólogos conseguiram encontrar cerca de 4.800 fragmentos de tecidos. Esses fragmentos também mostram a grande ênfase em mercadorias estrangeiras: há abundância de peças de roupas de seda chinesa, brocados ricos e altamente decorados com cordões entrançados e passemanterie; Tecido bizantino bordado em fios de ouro; lã e tecidos de linho; mas também materiais grosseiros.
Além disso, houve muitos achados de vidro e utensílios de metal importados, além de cerâmica de diversos locais — principalmente da Renânia. É importante notar que mesmo com todas essas ricas descobertas, menos de 1% da região foi escavada arqueologicamente e apenas um terço das 3.000 sepulturas foram investigadas. Isso nos leva a especular sobre os bens e itens majestosos que ainda estão sob o solo.
Em muitos aspectos, Birka se tornou um catalisador importante ao desenvolvimento social e econômico da Escandinávia. Devido à posição geográfica, os vikings suecos tendiam a navegar principalmente para leste e sudeste — em direção às costas do Báltico, ao longo dos rios, à Alemanha e às terras dos eslavos. Em comparação — os dinamarqueses e os noruegueses navegavam principalmente na direção oposta, rumo à Inglaterra, à Irlanda, às Ilhas Faroé, Shetland e à Islândia. Pode-se argumentar que os vikings suecos conseguiram o melhor negócio, importando mercadorias ricas e exóticas de lugares distantes como o califado abássida e o Império Bizantino, o que impulsionou muito o comércio na região e colocou Birka em posição de importância.
Desde o seu surgimento próximo à 750 d.C., Birka foi um próspero centro comercial por aproximadamente 200 anos. Os arqueólogos acreditam que provavelmente nunca teve mais de 700-1000 habitantes, que cobriam cerca de 17 acres. O porto principal de Birka era fortemente protegido e fortificado — ostentava muralhas, estacas e fortificações, tudo para protegê-lo dos ataques de piratas.
Um centro de difusão do cristianismo
Em fontes históricas, o porto comercial de Birka é mencionado apenas algumas vezes, e muito de sua história permanece nebulosa e enigmática. É por isso que hoje, muito de seu legado é reunido a partir de escavações arqueológicas.
A Vida de Ansgar (Vita Ansgari), escrita em 875 d.C. pelo Arcebispo de Bremen, Rimbert, é uma importante obra medieval, e menciona Birka como o lugar no qual o Santo Ansgar conduziu trabalhos missionários por volta do ano 830. Nesta obra afirma-se que Birka era o principal local de atividades missionárias católicas da Suécia, e foi o local da primeira congregação cristã sueca — por Santo Ansgar em 831.
Portanto, pode ser vista como um “trampolim” para a difusão do cristianismo no resto da Suécia e Escandinávia. Embora as menções e descrições de Birka neste trabalho sejam superficiais e fragmentárias, ainda fornecem informações históricas importantes, como a citação de vários reis suecos que moravam lá, incluindo os Reis Björn II, Olof e Anund Uppsale.
Contudo, é na obra posterior, os “Atos dos Bispos da Igreja de Hamburgo” (Gesta Hammaburgensis Ecclesiae Pontificum), escrita pelo cronista medieval, Adam de Bremen, nos primórdios dos anos 1000, que Birka é mencionada em detalhes. No entanto, quando o livro foi concluído, ele provavelmente foi abandonado ou destruído.
“Birka é a principal cidade geatense, situada no meio da Suécia, não muito longe do templo chamado Uppsala, que os suecos tinham na mais alta estima quando se tratava da adoração aos deuses pagãos; lá se forma uma enseada do Báltico ou do Mar “Bárbaro”, um porto voltado para o norte, que acolhe todos os povos selvagens em torno deste mar, mas que é arriscado para aqueles que se descuidam ou ignoram tais lugares ... eles, portanto, bloquearam esta enseada do mar agitado com massas ocultas de rochas ao longo de mais de 100 estádios (18 km). Neste ancoradouro, sendo o melhor abrigado na região marítima da Suécia, todos os navios pertencentes aos nórdicos, conhecidos como noruegueses, bem como os eslavos, sembrianos e outros povos costumam se reunir todos os anos para o comércio necessário”.
Este livro foi publicado por volta de 1076 e menciona pela primeira vez Birka como uma cidade existente. Ainda assim, após o primeiro lançamento, os livros foram complementados por comentários adicionais, conhecidos como scholios, a fim de revisar as informações fornecidas. Em uma dessas scholia, publicada poucos anos depois do livro original, Birka é mencionado como destruída: “Durante sua jornada ele aproveitou a oportunidade para fazer um desvio até Birka, que agora está reduzida à solidão, de modo que dificilmente se encontram vestígios de uma cidade…"
Hoje, a razão para o abrupto declínio e abandono de Birka permanece um assunto de grande especulação e debate entre os historiadores. Vários motivos podem ter levado ao seu rápido declínio e à perda de sua importância. Um ataque dos dinamarqueses é o motivo menos provável, embora continue a ser uma possibilidade. O mais provável, é que uma série de mudanças socioeconômicas levaram Birka a perder o seu significado.
Por volta do final dos anos 900, quando Birka estava sendo abandonada, a cidade vizinha de Sigtuna foi fundada como um importante assentamento cristão. Além disso, os níveis da água no Lago Mälaren estavam baixando nessa época, o que dificultava a navegação de navios e barcaças pesadas, resultando no declínio do comércio. Porém, a política e os conflitos no início do mundo medieval também podem ter contribuído para o seu declínio: as atividades assustadoras do governante eslavo-nórdico Sviatoslav I de Kiev, causavam a perturbação no comércio e na navegação ao longo dos rios Dnieper, Volga e Don, influenciando diretamente na economia da Suécia.
Um fim repentino de algo grande
No final, pode ser que todos esses fatores enfraqueceram o status de Birka e ela simplesmente perdeu espaço em relação aos outros centros comerciais escandinavos e bálticos. Muito rapidamente, a cidade que era o principal e mais movimentado centro de comércio viking da Suécia se perdeu no tempo, quase sem vestígios de sua existência até a sua descoberta nos tempos modernos.
Essa é a natureza da história: as gerações vêm e vão, os governantes mudam e o mundo ruge à sua própria maneira tumultuada. O que foi o centro da vida na região em uma década, pode ser nada mais que uma charneca abandonada na próxima, com os seus segredos enterrados sob o solo.
Mas, graças às mentes curiosas de arqueólogos e historiadores, hoje podemos aprender muito sobre essa joia perdida da Era Viking. Montar o quebra-cabeça pode nos mostrar importantes insights sobre as vastas redes de comércio dos nórdicos.
FONTE: Ancient Origins
VUČKOVIĆ, Aleksa. Birka: The Mysterious Demise of a Majestic Viking Trading Center. Ancient Origins. Dublin, 17 de jan. de 2021. Disponível em: <https://www.ancient-origins.net/ancient-places-europe/birka-0014809>. Acesso em: 18 de jan. de 2021. (Livremente traduzido pela Livros Vikings)
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