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O “monstro” Hafgufa das Sagas Vikings era na verdade uma baleia

As antigas sagas nórdicas estão repletas de criaturas míticas, mas alguns desses monstros marinhos podem ter sido baleias exibindo comportamentos intrigantes.


O “monstro” Hafgufa das Sagas Vikings era na verdade uma baleia
O Hafgufa foi descrito nas sagas nórdicas como um monstro marinho que abre a boca para que os peixes entrassem em grande número.

Em 2021, uma postagem nas mídias sociais viralizou mostrando centenas de anchovas pulando na boca de uma baleia no Golfo da Tailândia.


A baleia do post era da espécie conhecida Bryde (Balaenoptera brydei) e usava uma técnica conhecida como armadilha.


10 anos antes, na costa oeste do Canadá, esse comportamento foi documentado em um par de baleias jubarte (Megaptera novaeangliae).


Erin Sebo, especialista em manuscritos históricos da Universidade Flinders, disse:


Supunha-se que esta era uma técnica que as baleias tinham acabado de desenvolver.

Mas, um exame de textos antigos realizado pela Dra. Sebo e seus colegas, publicado em 28 de fevereiro na revista Marine Mammal Science, sugeriu que há mais de 1.000 anos os vikings teriam testemunhado o comportamento e o entrelaçado nas histórias de um monstro marinho chamado Hafgufa.


Embora os vikings não tivessem o nosso nível de conhecimento sobre ciência, eles eram bastante precisos em suas descrições e faziam boas suposições com as informações que possuíam.

A Dra. Sebo espera que as informações encontradas nos manuscritos possam nos ajudar a entender melhor o comportamento das baleias.


Ao encontrar essas descrições em manuscritos antigos, fomos capazes de fornecer aos cientistas muitas evidências que eles presumiam estarem perdidas.


Histórias de monstros marinhos

Os primeiros indícios de uma criatura marinha que capturava peixes apareceram em manuscritos gregos por volta de 300 d.C., que foram copiados e embelezados em várias línguas séculos depois.


Uma história islandesa de 1200 d.C. começa: Es hualr i sø̨ er heiter aspedo (há uma baleia no mar chamada Aspido).


Acredita-se que isso formou a base das representações de Hafgufa do Século XIII, que emitia um cheiro e aprisionava os peixes em sua boca, conforme descrito em um texto conhecido como Konungs skuggsjá (o Espelho do Rei).


As sagas nórdicas são particularmente precisas e provavelmente refletem a habilidade dos marinheiros vikings.

Mapa da Islândia de 1658 de Ortelius, mostrando várias criaturas marinhas mitológicas. A criatura marinha rotulada como H foi descrita como "a maior das baleias", que não conseguia perseguir peixes, mas os capturava com astúcia.
Mapa da Islândia de 1658 de Ortelius, mostrando várias criaturas marinhas mitológicas. A criatura marinha rotulada como H foi descrita como "a maior das baleias", que não conseguia perseguir peixes, mas os capturava com astúcia.

Nos Séculos XVII e XVIII, a lendária criatura havia crescido — literalmente — tornando-se do tamanho de uma pequena ilha. A Dra. Sebo acrescentou ainda:


Todo mundo assumiu que era tão fantástico, que simplesmente não poderia ser real.

Muitas pessoas argumentaram que o Hafgufa era uma ilusão de ótica causada por um vulcão subaquático, ou uma luz de determinada época do ano, que interagia com diferentes condições atmosféricas.


Conseguimos demonstrar claramente que é uma baleia, e que os vikings sabiam que era uma baleia.

Sentar-se, esperar e engolir

As baleias jubarte e as baleias de Bryde, que são de um subgrupo de baleias conhecidas como rorquais, usam várias técnicas de alimentação.


Geralmente elas se viram de lado, abrem a boca e atacam suas presas, explicou Vanessa Pirotta, especialista em baleias da Macquarie University, quem afirmou:


Baleen feeding 101 é essencialmente engolir a presa e a água ao mesmo tempo, para mais tarde se livrar da água.

Jubartes na Antártica e na costa leste da Austrália também trabalham em grupos para soprar bolhas que cercam suas presas em uma técnica conhecida como alimentação com rede de bolhas.


Entretanto, essas duas técnicas não são muito ativas, seja a armadilha ou a alimentação com bolhas, a tática nada mais é que se “sentar”, esperar e engolir, disse ela.


A baleia se “senta” verticalmente na água e abre suas mandíbulas, fechando-as quando há peixes suficientes nadaram. — Crédito da Imagem: J McCarthy)
A baleia se “senta” verticalmente na água e abre suas mandíbulas, fechando-as quando há peixes suficientes nadaram. — Crédito da Imagem: J McCarthy)

O motivo pelo qual o peixe pula na garganta da baleia é um mistério.


Takashi Iwata, quem identificou a primeira instância do comportamento das baleias do Golfo da Tailândia (2017), acredita que os peixes das camadas superiores do oceano seriam puxados por uma corrente criada pelo formato da boca da baleia.


Outra ideia é que a baleia pode arrotar alimentos não digeridos, atraindo os peixes e exalando um cheiro semelhante ao descrito pelos vikings. O professor Iwata, da Universidade do Japão, disse:


É uma ideia interessante, mas não há evidências claras.

Outros sugerem que os peixes podem ser levados a buscar refúgio de aves marinhas nas bocas escuras das baleias.


Por que as baleias fazem isso?

Até agora, a técnica só foi vista em jubartes na costa de Vancouver e em baleias de Bryde no Golfo da Tailândia, bem como na baía de Beibu, na China.


Ainda assim, o comportamento se torna cada vez mais comum nessas áreas.


Embora apenas duas jubartes tenham usado a técnica em 2011, o comportamento já foi avistado em 30 baleias da costa oeste do Canadá, disse Christie McMillan, da Marine Education and Research Society, que monitora as baleias. A pesquisadora afirmou:


Acreditamos que as baleias estão aprendendo a estratégia umas com as outras.


Na Tailândia, um número crescente de baleias foi visto usando a técnica ao longo do ano, mas principalmente nos meses de outubro e novembro.


Sebo disse que uma das razões pelas quais os cientistas poderiam não terem percebido esse comportamento é a enorme queda nas populações de baleias ocorrida no Século XIX e afirmou:


É realmente interessante que os vikings e os demais medievais vissem baleias suficientes e se aproximassem o bastante delas para realmente serem capazes de observarem esse comportamento com tanta precisão, ainda mais que hoje.

A Dra. Pirotta disse que olhar para o passado e para o conhecimento das Primeiras Nações sobre o comportamento das baleias, antes mesmo da caça às baleias, pode ser muito poderoso, enquanto as observações científicas fornecem uma compreensão do que as baleias fazem agora.


Não é a primeira vez que um novo comportamento foi detectado repentinamente em jubartes que se recuperavam dos caçadores.


Apenas dois anos atrás, supergrupos foram detectados pela primeira vez se alimentando em uma rede de bolhas na costa leste da Austrália. E segundo a Dra. Pirotta:


Se [a alimentação por armadilha] está surgindo independentemente, como a alimentação com rede de bolhas, vemos duas populações diferentes fazendo isso, deve haver algum motivo ou mecanismo que explique o porquê de os animais estarem escolhendo fazer isso.

O Dr. Iwata acredita que as baleias da Tailândia e da China possam usar essas técnicas para colher a comida escassa do topo do oceano em áreas cada vez mais poluídas.


Enquanto isso, a Sra. McMillan disse que as baleias do Canadá tendem a usar mais a técnica quando os cardumes são menores e menos densos, concluindo:


Não podemos dizer se o número crescente de animais que usam armadilhas se deve ao declínio do arenque nessas áreas ou a qualquer outra mudança ambiental, mas isso é algo que continuaremos a investigar.

FONTE: ABC Science

WEULE, Genelle. Ancient medieval texts suggest a sea monster in Norse sagas called Hafgufa was a trap-feeding whale. ABC Science. Sydney, 28 de fev. de 2023. Disponível em: <https://www.abc.net.au/news/science/2023-03-01/ancient-texts-norse-saga-hafgufa-whale-trap-feeding/102027600>. Acesso em: 02 de mar. de 2023. (Livremente traduzido e adaptado pela Livros Vikings)


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