Com embasamento histórico científico, a Livros Vikings em parceria com o Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos/NEVE traz conteúdos informativos, em razão da Era Viking.
Desde muitos séculos as narrativas dos deuses e deusas nórdicas vem fascinando o mundo ocidental, seja em manifestações artísticas, ou então em narrativas literárias. Mesmo o Brasil já possuía certo interesse nesta temática, visto o envolvimento de alguns acadêmicos do Império e da primeira república com as deidades nórdicas, a exemplo do naturalista João Barbosa Rodrigues e sua busca pelos “filhos de Odin” na Amazônia. Na década de 1950 o escritor paulista Owen Mussolin, mais conhecido como Esopinho, já escrevia obras de popularização sobre Mitologia Nórdica. Mais recentemente, o sucesso do Dicionário de Mitologia Nórdica, publicado pela editora Hedra, demonstra a imensa atração que o público ainda mantém em conhecer mais profundamente o universo que envolve as narrativas míticas da Escandinávia.
O presente estudo mantém a continuidade de um processo de pesquisas nacionais que teve início no final dos anos 1990 e se prolongou pela década de 2000. Inicialmente elas foram influenciadas essencialmente pela academia francesa, em particular pela obra de Régis Boyer. Posteriormente, tivemos toda uma série de eventos, publicações e criações de grupos de pesquisas que vem fortalecendo e consolidando cada vez mais os estudos nórdicos no Brasil. Assim, grande parte de nossas próprias pesquisas mantém uma forte influência francesa, mas ao mesmo tempo, mantemos um constante diálogo com o que se produz entre os escandinavistas europeus e norte-americanos.
Em se tratando de um estudo sobre mitologia, obviamente, temos que definir o que é mito. Uma tarefa nada fácil, visto que existem dezenas de definições, de conceitos e perspectivas teóricas. De nossa parte, somos inclinados a não tomar parte de um referencial fenomenológico. Ou seja, não compartilhamos da visão de que existe uma essência humana universal, atemporal, que constitui a base de todos os mitos em todos os lugares e épocas. Em nossa concepção, os mitos devem ser percebidos em um referencial histórico e ao mesmo tempo, cultural. Neste sentido, os mitos são narrativas (orais, literárias ou visuais), acerca de deuses, heróis, monstros, sobre a origem do mundo ou de elementos da natureza. São estruturas de sentido, porque tem a função de explicar o mundo dos homens, dos deuses e do cosmos. Podem ter conotação religiosa ou alguma ligação com o “sagrado”, mas não necessariamente. Como diz Jens Peter Schjødt (2008, pp. 64-72), mitos contém referências sobre as coisas e os seres, são dramatizações, enquanto os rituais são ferramentas de comunicação com o outro mundo (o mito explica, o rito obtém). Essas narrativas são utilizadas em rituais ou pela esfera religiosa, sem perder suas características ou serem independentes.
O corpus: o acesso aos mitos nórdicos é realizado essencialmente por três tipos de fontes – as literárias, compreendendo uma série de manuscritos escritos e preservados durante a Idade Média; as iconográficas, um conjunto de imagens, esculturas, pinturas, referentes aos deuses germano-escandinavos, datados do período das migrações ao fim do medievo; as arqueológicas, monumentos e inscrições aludindo aos mitos e ritos nórdicos. Somente as duas últimas foram elaboradas durante a Era Viking, criando toda uma série de questões metodológicas para o tratamento das fontes literárias medievais. Para alguns pesquisadores, a memória dos rituais pré-cristãos foi rapidamente esquecida com a cristianização, enquanto as narrativas mitológicas ainda eram preservadas no momento do registro escrito (Schjødt, 2008, p. 87).
1. A Edda Poética
A mais importante e tradicional fonte para o estudo da Mitologia Nórdica, possui material diferenciado em forma, conteúdo e idade. Essencialmente composto pelo manuscrito conhecido como Codex Regius (Ggs 2365 4to, Gammel kongelig samling), com essa denominação porque fazia parte do tesouro da Biblioteca Real de Copenhagen até os anos 1970, quando então foi devolvido para a Islândia. Este manuscrito foi redigido em um pergaminho (medindo 19 por 13 centímetros e com 45 folhas, faltando 8 folhas conhecidas como “a grande lacuna”), escrito na segunda metade do século XIII e contendo 29 poemas, dez tratando de temas mitológicos e 19 com material heroico germânico e escandinavo dos tempos antigos (Gunnell, 2007, p. 82). Outros manuscritos que contém material éddico são o AM 748, 4º, o Hauksbók (Codex n. 544), o Flateyjarbók (Codex n. 1005), o Codex Wormianus (AM 242 fol.) e o Codex Regius da Edda em Prosa (Codex n. 2367).
O termo “poema éddico” se refere a poema anônimos que tratam de mitos ou do mundo heroico nas terras nórdicas utilizando as métricas ljóðaháttr, fornyrðislag ou málaháttr. A origem dos poemas é controversa, segundo alguns seriam de datas e locais diferentes. O manuscrito Codex Regius contém material antigo com raízes pagãs, mas existe controvérsia sobre este material ser de origem oral ou ter sido influenciado pelo cristianismo. Enquanto alguns escandinavistas consagrados alegam que os poemas éddicos contém mitos verdadeiros (Lindow, 2005, p. 28) outros questionam seu caráter de fonte primária para o estudo dos mitos do período pagão (Abram, 2011, p. 20).
Sabemos muito pouco sobre as origens ou a história original tanto do manuscrito Codex Regius quanto do AM 748 4to. O Codex Regius foi escrito em 1270 e acabou sendo possuído por Brynjólfur Sveinsson em 1643. Inclusive foi este bispo islandês que denominou a coleção de Edda, pela proximidade de conteúdo com os poemas preservados na obra homônima de Snorri Sturluson (Gunnell, 2007, p. 83). Quanto ao AM 748 4to, deve ter sido escrito entre 1300 e 1325 (Dronke, 1997, p. xi).
A forma dos poemas éddicos é variável. Enquanto alguns poemas foram realizados na forma de baladas, outros são poemas em forma de perguntas e respostas. Devido ao conteúdo e temas de seus cantos, a Edda Maior é dividida em duas partes ou seções muito diferenciadas. Na primeira parte ocupam os poemas mitológicos e a segunda as façanhas dos heróis da tradição germano-escandinava. A organização do Codex Regius é lógica, mas não completamente harmônica e não existem evidências de que os poemas circulavam antes deste códice (Abram, 2011, p. 18).
Os poemas inseridos nos manuscritos possuem características em comum com a poesia escáldica: conteúdo mitológico; concepções éticas; sabedoria heroica do Norte antigo; todas foram compostas em um estilo simples e como as baladas e canções folclóricas são anônimas e objetivas, nenhuma traindo os sentimentos ou atitudes dos seus autores. Essa unidade numa aparente diversidade não deixa dúvidas que o coletor anônimo que reuniu todas as baladas e fragmentos de poemas que viviam em sua memória já estava comprometido com a sua escrita (Hollander, 2008, p. xv). Mas as diferenças entre a poesia éddica e escáldica também existem, pois enquanto a primeira forma de poesia é considerada uma fonte mais importante para se estudar a mitologia, a escáldica é superior em questões religiosas (Lindow, 2005, p. 32).
O Codex Regius é iniciado pela majestosa Vǫluspá (A profecia da profetisa), a mais completa fonte nórdica antiga sobre as concepções do mundo, suas origens e destino e o primeiro poema que possui Odin como figura central, apresentando temáticas gnômicas, mitológicos e conhecimento mágico. Os três poemas seguintes são principalmente didáticos (Hávamál, Vafþrúðnismál, Grímnismál), lidando com as visões do supremo deus Odin; um poema envolve o deus da fertilidade Freyr (Skírnismál); cinco poemas tratam predominantemente do deus Thor (Hárbarðsljóð, Hymiskviða, Lokasenna, Þrymskviða e Alvíssmál). Outros poemas geralmente incluídos nas edições modernas da Edda Poética não fazem parte do Codex Regius (como Baldrs draumar, Rígsþula, Hyndluljóð e Gróttasöngr) e são todos provenientes de códices do século XIII e com conteúdos mitológicos. Rígsþula é incompleto, narra como a sociedade foi formada em classes e recebeu a instituição da realeza; Baldrs draumar relata as profecias da morte de Balder por meio da interação entre Odin e uma profetisa morta; Hyndluljóð comenta sobre a genealogia do herói humano Ottar, que precisa conhecer a sua linhagem para reivindicar a sua herança; Gróttasöngr, poema relatando duas gigantas que são forçadas a trabalhar por Frodi – um semilendário rei dinamarquês, cujo reinado é destruído por esses maus tratos.
De maneira geral, os pesquisadores argumentam que não existem evidências de que os poemas datem de antes do século VIII, mas neste caso, as preocupações linguísticas se dividem em dois grupos: os que acreditam que o mais importante é o conteúdo dos poemas (Preben Sørensen, Jens Schjødt), enquanto para outro grupo o mais relevante é a forma. A questão básica se o Codex Regius reflete a composição original dos poemas é altamente polêmica, pois a tradição nórdica oral variava de época e de local para local. Também a mistura de memória a improvisação refletia a forma dos poemas, fazendo com que o material sobrevivesse com alterações – apesar de expressões e fórmulas sobreviverem intactas. Os poemas mitológicos foram compostos por autores cristãos, mas possuem raízes em um período bem anterior à cristianização, esta efetuada entre os anos 999 e 1000. Estes poemas são uma imagem genuína da verdadeira natureza do paganismo nórdico antigo (Gunnell, 2007, p. 93, 94).
A Edda Poética contém poemas datados de épocas bem diferenciadas e de locais externos à Islândia, especialmente a Escandinávia continental, mas também de regiões como as ilhas britânicas ou de localidades com influências célticas. As influências cristãs também aparecem em alguns poemas, como a relação entre o Hávamál e a Disticha Catonis, ou a Vǫluspá e a Prophetia Sibyllae magae.
Edições modernas: Em islandês antigo as melhores edições são os dois volumes de Eddukvæði (Reykjavík: Hið íslenzka fornrítafélag, 2014), organizados por Kristjánsson e Ólason, ambos baseados no Codex Regius. No primeiro volume, foram incluídos os poemas mitológicos, precedido por uma longa análise de Vésteinn Ólason e uma explicação do termo Edda. No segundo volume, foram reunidos os poemas heroicos.
Traduções: Em português até o momento foram traduzidos somente alguns poemas éddicos. O Hávamál foi publicado na revista Mirabilia n. 17 (2013). O Grímnismál foi traduzido por Pablo Miranda e publicado na revista Roda da Fortuna 3(2), 2014. O mesmo pesquisador finalizou a tradução completa da Vǫluspá do nórdico antigo para o português e será publicada pelo periódico Scandia: Journal of Medieval Norse Studies.
No Dicionário de Mitologia Nórdica (São Paulo: Hedra, 2015) foram incluídos alguns poemas éddicos do Codex Regius, como Þrymskviða (tradução de Yuri Fabri Venâncio), Rúnatal (tradução de Theo Borba Moosburger), fragmento do Grímnismál (tradução de Pablo Gomes de Miranda) e outros classificados dentro do conceito de Eddica Minora: Darraðarljóð (tradução de Yuri Fabri Venâncio) e Buslubæn (tradução de Johnni langer).
Uma boa opção para quem não domina as línguas escandinavas são as traduções ao espanhol: Textos mitológicos de las Eddas (Madrid: Miraguano, 2013) de Enrique Bernardez (somente excertos); Edda Mayor (Madrid: Alianza, 2016) de Luis Lerate de Castro, a melhor opção em língua hispânica. Também em outras línguas neolatinas temos interessantes edições. Em francês, existe a famosa tradução de Régis Boyer (L´Edda Poétique, Paris: Fayard, 1992) e em italiano Il canzoniere eddico (Milano: Garzanti, 2009), de P. Scardigli e M. Meli.
Em inglês ocorre grande quantidade de boas traduções acadêmicas. Uma das melhores, com uma grande quantidade de notas, comentários às traduções e comparações morfológicas entre os manuscritos é a edição de Ursula Dronke (The Poetic Edda, 3 volumes, Oxford: Clarendon Press, 1969-2011), mas infelizmente incompleta devido ao seu falecimento. Outras edições consagradas são as de Lee Hollander e Henry Adams Bellows. A nova edição revista de Carolyne Larrington (The Poetic Edda, Oxford, 2014) vem sendo uma das mais utilizadas entre os escandinavistas contemporâneos.
2. A Edda em Prosa
Manuscritos: A Edda em Prosa, também denominada de Edda Menor ou Edda de Snorri, é uma obra supostamente escrita pelo intelectual islandês Snorri Sturluson (1179-1241) em 1220. Seu nome aparece em somente um dos quatro manuscritos principais da obra, juntamente com o nome Edda: o manuscrito DG 11 ou Codex Upsaliensis (U), c. 1300-1325. Ela também circulou anonimamente no medievo em outros manuscritos: o GKS 2367 4º ou Codex Regius (R), c. 1300-1350 e AM 242 fol ou Codex Wormiamus (W), c. 1350. Nestes quatro manuscritos a obra apresenta variações e textos diferentes entre si, o que leva alguns pesquisadores a questionarem o conceito de “texto original” na qual todas as edições modernas se baseiam (Boulhosa, 2004, p. 13-14). Outro manuscritos são o Codex Trajectinus (T 1374), redigido em 1600 e em estado completo; e os fragmentários AM 748 4º (c. 1300-1325); AM 757 a 4º; AM 748 II 4to (c. 1400) e AM 756 4º (c. 1400-1500).
Conteúdo: A Edda em Prosa é um manual com técnicas de composição da poesia escandinava. A maioria dos pesquisadores o concebe com um caráter pedagógico, com a intenção de preservar a memória das antigas artes poéticas, ameaçadas por novas tendências literárias. A Edda em Prosa possui quatro seções: Prólogo, Gylfaginning, Skáldskaparmál e Háttatál.
O Prólogo apresenta elementos sobre o criador e o mundo natural, com diversos elementos bíblicos e cristãos, somados e a um referencial fortemente evemerista. Por exemplo, ao tratar de Tróia e seus descendentes, que teriam migrado para a Escandinávia, fundado dinastias e depois sendo considerados deuses pelos habitantes da região. Alguns acadêmicos concebiam o Prólogo como um texto apócrifo, não pertencendo ao “texto original” da obra de Snorri, algo que vem sendo revisto e contestado. O Gylfagging (O engano de Gylfi) possui trechos intercalados com humor e ironia, sendo um diálogo entre o rei Gylfi e os deuses nórdicos sobre vários temas, incluindo criação e destino do cosmos. Apresenta uma visão centro-medieval dos mitos nórdicos, com ampla influência clássica e bíblica e em alguns momentos, hibridizada com o referencial pré-cristão. O Skáldskaparmál (Dicção poética) é a seção mais longa, um diálogo entre Bragi e Aegir recenseando os sinônimos e metáforas da poesia nórdica (heiti e kenningar), ambos originados da Mitologia Nórdica. O Háttatál (lista de métricas) é composto por 102 estrofes na forma de elogios ao rei Hákon e ao jarl Skúli, redigidas com várias métricas diferentes e está ausente da maioria das edições da Edda em Prosa devido ao seu conteúdo extremamente técnico e intrincado.
Modelos e fontes: A obra de Snorri não tem precedente literário nem na Escandinávia e nem na Europa. Em termos de poesia nativa, somente a Irlanda tem casos semelhantes, visto que a maioria dos escritores europeus escrevia em língua nativa (Faulkes, 2005, xx). O caso do Gylfaginning é ainda mais peculiar, visto que escritos mitográficos não eram comuns no medievo. Na área germano-escandinava, a sistematização de Snorri é a mais completa e interessante que foi preservada relativa aos mitos e lendas, sendo também considerada lucida, coesa, linear (Lindow, 2005, p. 36). A tradição escandinava em compor poemas de instruções mitológicas como diálogos ou monólogos também pode ser vista em Vafþrúðnismál, Grímnismál e Baldrs draumar. Muitas das narrativas de Gylfaginning foram baseadas na Edda Poética em confluência com esquemas bíblicos ou da poesia escáldica (esta segunda mais influente em Skáldskaparmál). Mas nem tudo que está contido na Edda em Prosa pode ser considerado como material antigo (tanto oral quanto escrito). Como um intelectual, Snorri interpretou a Mitologia Nórdica enquanto um antiquário mas não como religioso (Faulkes, 2005, xxi).
Interpretações: As duas principais interpretações contemporâneas da obra de Snorri seguem em caminhos diferenciados. A primeira, enfatiza que a Edda em Prosa é uma adaptação dos mitos nórdicos com o mundo cristão, mas que é possível utilizá-la como fonte para a Mitologia Nórdica. Isso é referendado pelo fato de que muitos elementos em Snorri são confirmados por outras fontes, como a poesia éddica, escáldica e imagens preservadas em monumentos. Apesar da influência de seu contexto, a Edda contém uma estrutura pagã, aos pesquisadores resta encontrar os modos e metodologias para o seu estudo (Schjødt, 2008, pp. 97-100).
A segunda enfatiza a hibridização e a influência do cristianismo centro-medieval em sua obra, criando uma nova mitologia baseada na tradição e parcialmente nas atitudes e crenças cristãs do período (uma meta-mitologia do norte), a exemplo da distinção moral entre pagãos que vão para Hel ou para o salão de Odin após a morte. Assim, os mitos preservados por Snorri não pertencem originalmente à “verdadeira” Mitologia Nórdica (Abram, 2011, pp. 211-221).
Edições: A Viking Society Web Publications disponibiliza os melhores recursos para o estudo da Edda em Prosa, realizados por Anthony Faulkes. Em primeiro lugar, seis estudos sobre a obra de Snorri Sturluson, além de análises sobre os manuscritos (Skáldskaparmál 1 e 2, 1998); a versão do Codex Regius (Edda: Prologue and Gylfaginning, 2005); a versão do Codex Regius traduzida ao inglês com as suas quatro seções (Edda, Everyman, 1987); a versão do manuscrito de Uppsala em nórdico antigo e em inglês (The Uppsala Edda: DG 11 4to, 2012). A quarta seção, Háttatal, também recebeu uma edição do nórdico antigo (com amplas notas explicativas, glossário e discussões codicológicas) de Anthony Faulkes (Edda: Háttatal, Clarendon Press, 1991). A mesma seção, ausente da maioria das edições contemporâneas, já havia sido traduzida ao inglês em 1974 por Abbie Hartzel Martin (University of North Carolina at Chapel Hill). Uma edição muito popular em inglês é a de Jesse Byock (The Prose Edda, Penguin, 2005), mas sem o detalhamento e o tratamento documental das traduções de Faulkes.
Traduções: Em língua portuguesa foi realizada a edição de Marcelo Magalhães Lima (Edda em Prosa. Rio de janeiro: Numen, 1997). Trata-se de uma péssima tradução do inglês ao português, com ausências de trechos prosaicos e poéticos e traduções totalmente equivocadas. Não recomendado para iniciantes, popularização ou pesquisas acadêmicas. Em 2014 Artur Avelar realizou outra tradução do inglês ao português (Edda em Prosa: Gylfaginning e Skáldskaparmál, eBook Kindle, Barbudânia), muito mais cuidadosa do que a edição de Marcelo Lima, mas sem um tratamento acadêmico mais refinado. O prólogo da Edda em Prosa foi traduzido ao português na edição 12 do boletim Notícias Asgardianas (2017), feita por Maria Adele Cipolla e Lorenzo Sterza. A pesquisadora Thais Gomes Trindade teve seu projeto (Uma tradução comentada da Edda de Snorri) aprovado para o mestrado em tradução na USP (entrada em 2018), relativo à tradução do Prólogo e Gylfaginning do islandês antigo ao português moderno.
Em línguas neolatinas temos várias boas opções de traduções diretas do nórdico antigo. No espanhol existe a versão de Jorge Luis Borges, mas somente para a segunda parte: La alucinacion de Gylfi (Madrid: Alianza, 1984), enquanto que a edição de Luis Leraste de Castro traz as três primeiras seções (Edda Menor, Madrid: Alianza, 2016), do mesmo modo que a francesa de François-Xavier Dillman (L´Edda, Paris: Gallimard, 1991) e a italiana de Giana Chiesa Isnardi (Edda di Snorri, Milano: Tea, 2003). Todas as traduções da Edda em Prosa para línguas neolatinas omitiram a segunda parte do Skáldskaparmál (que inclui catálogos de sinônimos poéticos) e o Háttatál por completo, do mesmo modo que a edição em inglês de Jesse Byock (The Prose Edda, Penguin, 2005). Ao espanhol, a primeira seção do Háttatal foi traduzida inteiramente, junto a uma sinopse das estrofes 9 a 102, no livro Poesía antiguo-nórdica, de Luis Lerate (Alianza Tres, 1993).
3. Poesia escáldica
Conceito: Trata-se de um gênero poético criado individualmente pelos poetas da Era Viking (skáld, escaldo), composto não somente na Islândia, mas também na Noruega. A poesia era associado com Odin e o mito do roubo do hidromel, associado estreitamente a arte poética com a Mitologia Nórdica. Muitos poemas descrevem os deuses bem antes da conversão, com especial ênfase em Thor, mas apenas em seu aspecto de combate aos gigantes (sem nenhuma referência a promotor de fertilidade, por exemplo). As narrativas escáldicas não são religiosas, mesmo em seu uso como metáforas mitológicas e da relação entre kenningar e mito (Lindow, 2005, p. 27), tendo como temas bravas proezas, conflitos de honra, sortes trágicas, relações amorosas, elementos didáticos e burlescos, mito e magia, cuja ação é exposta de modo direto e simples, mas ao mesmo tempo sendo um refinado produto artístico. Algumas obras poéticas foram baseadas em imagens heroicas e míticas pintadas em escudos pendurados nos salões reais (Lerate, 1993, pp. 9-18).
Interpretações: Além de qualquer associação mítica, a poesia escáldica era uma mercadoria na Escandinávia Medieval, usada para conferir ou destruir a honra e como consequência, considerada um poderoso agente no dinamismo político e social da época. Príncipes podiam recompensar os elogios poéticos com navios com ouro, assim como um mau poeta podia perder a cabeça (Whaley, 2007, p. 480). A maior característica da poesia escáldica, descontando sua métrica, é o seu uso de kenning – uma construção perifrásica e metafórica. Ao utilizar kenningar de mitos, a audiência do poeta deveria ter um bom conhecimento das narrativas em geral, pois elas não eram um bom meio de se ter aprendizado sobre mitologia. Apesar das dificuldades de se analisar a poesia escáldica, ela é importante para se compreender como os mitos foram modificados com o tempo, sendo uma das poucas evidências diretas do período pagão (Abram, 2011, p. 16).
Edições: O pesquisador Ernest Albin Koch realizou uma grande coletânea da poesia escáldica em nórdico antigo, Den norsk-isländska skaldediktningen (dois volumes, Lund, 1946 e 1949). Porém a mais completa sistematização do tema é The skaldic Project contando com acesso a poesia rúnica, textos em nórdico antigo, manuscritos, escaldos, editores, bibliografia e vários mecanismos de busca. A editora Brepols prevê a publicação de oito volumes do projeto, sob a organização geral de Margaret Clunies Ross, já contando com várias edições (Poetry from treatises on poetics, com as seções poéticas do Skáldskaparmál, Háttatal e Háttallykill; Poetry in Fornaldarsǫgur, com os poemas inseridos nas sagas lendária; Poetry from the King´s sagas, com os poemas das sagas reais).
Traduções: em inglês as traduções mais populares são de Lee Hollander, com várias edições e reedições (Old Norse Poems e The Skalds: A Selection of Their Poems).
Em espanhol uma boa coletânea de poesia escáldica com conteúdo mitológico foi traduzida por Luis Lerate (Poesía antiguo-nórdica: antologia siglos IX-XII, Alianza Tres, 1993), com destaque para Ynglingatal, Haraldskvæði, Hákonarmál e Þórsdrápa.
No português até o momento temos somente um poema escáldico traduzido diretamente do nórdico antigo, Þórsdrápa (Canção de elogio ao deus Þórr), realizado por Yuri Fabri Venâncio, integrante do livro online Desvendando os viking: estudos de cultura nórdica medieval (2016).
4. As sagas lendárias
Conceito: As fornaldarsögur (sagas lendárias) são um subgênero das sagas islandesas, caracterizadas por serem anônimas e tendo como escopo narrativas envolvendo heróis num universo lendário e mítico. As 25 sagas lendárias possuem relação direta com a tradição éddica e com a tradição germânica antiga, como Beowulf e a Canção dos Nibelungos. Trata-se de um gênero híbrido entre o mundo heroico, o mito, o folclore e o romance continental, realizadas essencialmente para entretenimento, mas também associadas ao aprendizado aristocrático no contexto do século XII. Não possui valor histórico como as sagas de família (Tulinius, 2007, pp. 447-461).
Interpretações: Alguns pesquisadores identificam três tipos de paganismo nas sagas lendárias: a nomeação direta dos deuses e as formas de práticas rituais; os remanescentes menos transparentes da tradição mitológica; o uso inconsciente de elementos que provavelmente tiveram alguns elementos dos antigos ritos pagãos (Schjødt, 2008, p. 102). Para outros, entretanto, o paralelo entre o conteúdo das sagas lendárias e as tradições antigas dos mitos e ritos nórdicos nem sempre pode ser estabelecido (ou sequer existe) e deve ser comparado a outros tipos de literatura fantástica (Abram, 2011, p. 24).
Edições: A quantidade de edições em nórdico antigo das sagas lendárias é muito vasta, mas pode ser rastreada em detalhes pelo portal Stories for all time: The Icelandic fornaldarsögur (http://www.fasnl.ku.dk), mantido pela Universidade de Copenhage. Nele também é possível consultar os diferentes manuscritos medievais, todas as traduções disponíveis em várias línguas por cada saga, além de bibliografias especializadas.
Traduções: Para o inglês, uma excelente ferramenta de busca das traduções disponíveis é o site An Index to the CompleteFornaldarsögur Norðurlanda in English Translation.
Na França uma grande quantidade de sagas recebeu inúmeras edições e traduções desde o final do século XIX, mas destacamos essencialmente as traduções de Régis Boyer: Saga des Völsungar; Saga de Hervöret duroi Heiðrekr; Saga de Hrólfr kraki; Saga de Gautrekr; Saga de Saga d’Oddr aux Flèches; Saga de Ketillle Saumon; Saga de Sturlaugr l’Industrieux.
Em italiano algumas sagas lendárias foram traduzidas, como La saga di Hervor (Unipress, 1993), La saga dei Volsunghi (Edizioni dell'Orso, 1993), e La saga di Bósi (Carocci, 2008).
Na Espanha todas as sagas lendárias foram traduzidas, com destaque para Saga de los Volsungos (Editorial Gredos, 1998); Saga de Ragnar Calças Peludas (Tilde, 1998); Sagas islandesas (Madrid, 2003); Sagas islandesas de los tiempos antigos (Miraguano, 2007); Saga de Fridthjóf el Valiente y otras sagas islandesas (Miraguano, 2009); Saga de Yngvarel Viajero y otras sagas legendarias de Islandia (Miraguano, 2011); Saga de Hervör (Miraguano, 2008); Saga de Bósi (Miraguano, 2014).
A única saga lendária traduzida em nossa língua vernacular até o momento foi Saga dos Volsungos (São Paulo: Hedra, 2009), com tradução do nórdico antigo ao português de Theo Borba Moosburger. Trata-se de uma bela edição, com uma detalhada introdução analítica, excelentes notas de rodapé e um resumo narrativo em seu desfecho.
Destacamos ainda uma importante fonte literária para o estudo dos mitos nórdicos, mas que pertence ao subgênero das sagas reais, a Ynglinga saga, tradicionalmente também creditada a Snorri Sturluson. Incluída na primeira parte do Heimskringla, descreve a história da dinastia dos Ynglingos e a chegada dos deuses na Escandinávia, como Freyr. A perspectiva evemerista lembra muito o Prólogo da Edda em Prosa. Nesta fonte surge a mais famosa descrição dos berserkir, além de comentários sobre Odin, Freyja e outras divindades. Em inglês esta saga está disponível na primeira parte do livro Heimskringla (The Saga of the Ynglings), traduzido por Lee Hollander (University of Texas, 2009). Em espanhol existe a excelente edição La saga de los Ynglingos, de Santiago Ibañez Lluch (Miraguano, 2012), com uma extensa introdução analisando o contexto social e histórico da saga, os manuscritos e os detalhes técnicos da tradução.
5. Fontes iconográficas
Corpus: A cultura material proveniente da Escandinávia antes, durante e depois da Era Viking fornece elementos imprescindíveis para o estudo das crenças deste período, mas nem todas possuem valor para o estudo dos mitos. Nem todas contam algum tipo de estória, sendo apenas meios de informações não narrativas. Os tipos mais comuns de fontes iconográficas utilizadas pelos pesquisadores para o estudo da Mitologia Nórdica são: petróglifos da Idade do Bronze; bracteatas do período das migrações germânicas; estatuetas, pingentes e objetos decorativos da Era Viking; estelas rúnicas e pintadas da Era Viking; plaquetas votivas; monumentos nórdicos e cruzes da área anglo-saxã; tapeçarias da Era Viking e do período medieval.
Petróglifos da Idade do Bronze: diversas pinturas e gravuras (petróglifos) realizados na Escandinávia durante o período do Bronze, sendo grupo mais importante as pinturas rupestres de Tanum, Bohuslän (sul da Suécia), datadas de 1.800 a 400 a. C. Diversos mitólogos (como Régis Boyer e Hilda Davidson) acreditavam que algumas destas representações poderiam remeter a divindades nórdicas (como Odin e Thor) muito antes da chegadas dos povos germânicos ao local, uma hipótese bem polêmica e contestada. Não há como relacionar diretamente as cenas da arte rupestre com todas as fontes medievais da mitologia germano-escandinava, mas algumas pesquisas indicam que certos elementos, como questões cosmológicas, parecem estar extremamente inseridas nestas imagens. A jornada do Sol, representações de árvores e animais cósmicos, símbolos solares, pássaros, armas, embarcações e cogumelos, símbolos e formas geométricas não figurativas contém diversas conexões com narrativas preservadas muito tempos depois ou então, com elementos da mitologia indo-européia (Kristiansen, 2010, pp. 93-115). O site Underslös Museum fornece uma extensa galeria de fotografias sobre os principais painéis de diversos sítios rupestres escandinavos, além de estudos analíticos e arquivos de imagens por temas (motivos) dos conjuntos.
Bracteatas: Constituem em tipos de medalhões ou moedas de ouro utilizadas como ornamentos durante o período das migrações germânicas (ver verbete Bracteatas no Dicionário de História e Cultura da Era Viking, São Paulo, Hedra, 2017). Diversos acadêmicos estão convencidos que muitas imagens destes objetos trazem alusões a divindades como Odin e seu cavalo (também junto a símbolos como suásticas, lanças e formas não figurativas), Tyr tendo a sua mão devorada, Freyr, Balder sendo morto por Höðr, etc. O site Arild Hauges Runer fornece um ótimo índice tipológico e fotográfico destas fontes.
Estelas rúnicas e pintadas da Era Viking: Existem centenas de objetos e monumentos nórdicos contendo imagens associadas direta ou indiretamente aos mitos. Nem sempre estas imagens possuem conexão com o conteúdo das inscrições rúnicas dos monumentos. As cenas mais comuns nas estelas rúnicas são as que se relacionam com o ciclo nibelungiano, especialmente a morte de Fáfnir por Sigurd. Uma excelente tipologia analítica destes monumentos é disponível no livro The Viking-Age Rune-Stones, de Birgit Sawyer (Oxford, 2003), inclusive com descrições de imagens por monumentos (p. 233). Outra importante publicação contendo extensas imagens de monumentos, objetos, painéis e bracteatas com conteúdos mitológicos é Anthologie Runique, de Alain Marez (Les Beles Lettres, 2007). A tese de doutorado de Marjolein Stern (Runestone images and visual communication in Viking Age Scandinavia, Universidade de Nottingham, 2013) não traz fotografias, mas contém uma tabela infográfica com a relação de quase todas as estelas rúnicas da Era Viking que contém imagens, inclusive com descrição detalhada de cada uma (incluindo temas mitológicos), ou seja, um instrumento imprescindível aos pesquisadores. O site Runor contém uma ampla variedade de fotografias de monumentos rúnicos, bem como Arild Hauges Runer.
Os monumentos mais importantes para o estudo da Mitologia Nórdica são as estelas da ilha de Gotland, Suécia, contendo diversas cenas importantes, como a pesca da serpente do mundo, a entrada ao Valhalla, cenas de batalhas, valquírias, Odin, entre outras. O livro Stones, ships and symbols (Gidlunds, 1988; tradução em francês: Les pierres gravées de Gotland, Michel de Maule, 2007) de Erik Nylén e Jan Lamm contém uma das melhores tipologias e recenseamento dos monumentos, com ampla quantidade de imagens e análises. Destacamos ainda o estudo em português As estelas da ilha deGotland e as fontes iconográficas da mitologia viking com uma proposta de classificação tipológica deste material.
Hogbacks, monumentos e cruzes da Inglaterra: Uma série de monumentos nórdicos foram realizados durante o período de ocupação da Inglaterra anglo-saxônica, alguns ainda em um contexto pagão e outros já hibridizados com o cristianismo. Alguns destes objetos tratam do mundo odínico e seus símbolos (como os hogbacks), mas mesmo cruzes cristãs contém cenas mitológicas (a pesca da serpente do mundo por Thor, a morte de Odin, cenas do Ragnarok, entre outras). Para imagens destas fontes, consultar os livros Viking Age Sculpture in Northern England (Collins Archaeology, 1980) e Early medieval stone monuments (Boydell, 2015). O site The corpus of Anglo Saxon StoneEsculptures possui um amplo arquivo fotográfico separado por regiões e monumentos. Um estudo em português sobre o tema é A morte de Odin? As representações doRagnarök na arte das Ilhas Britânicas.
Tapeçarias nórdicas: Um excelente material para estudo de diversos cenas e motivos míticos são uma série de tapeçarias feitas para decorações em parede da Era Viking e período medieval. Para informações detalhadas de cada uma, consultar os verbetes Tapeçaria de Bayeux, Oseberg, Överhogdal e Skog, incluídos no Dicionário de História e Cultura da Era Viking (São Paulo, Hedra, 2017). Para boas imagens destas fontes, consultar o Jamtli museum, Kulturhistoriskmuseum e Statens historiska museum.
6. Instrumentos de pesquisa:
Recursos linguísticos: É recomendável aos estudantes e pesquisadores o estudo do idioma vernacular dos manuscritos, algo indispensável com o avanço individual de cada pesquisa. Em espanhol, um excelente manual introdutório é Antiguo islandês: Historia y lengua, de Maria Pilar Fernández Álvarez (Madrid: Ediciones Clásicas, 1999). Além de um detalhado panorama histórico, a autora fornece diversos elementos fonéticos, morfológicos e sintáticos da língua. Recentemente foi publicado o manual Viking Language, em dois volumes (Jules William Press, 2013) de Jesse Byock. Também existem excepcionais obras de consulta e referência, como A Concise Dictionary of Old Icelandic (Geir Zoega), An Icelandic-English Dictionary (Cleasby & Vigfússon), A New Introduction to Old Norse (Michael Barnes), An elementary grammar of the Old Norse (George Bayldon) e English-Old Norse Dictionary (Ross Arthur). A Viking Society Web Publications mantém excelentes ferramentas básicas em seu site, como uma introdução às fontes, gramática e um glossário. Também existem cursos introdutórios online mantidos por universidades, como a do Texas ou independentes (Old Norse for Beginners). Um formidável sistema de referência é a ferramenta online Dictionary of Old Norse Prose, mantida pela Universidade de Copenhagen.
Recursos bibliográficos: Os melhores referenciais bibliográficos, conceituais e analíticos básicos para os estudantes de Mitologia Nórdica foram incluídos na obra Old Norse-Icelandic Literature, 2005, de Clover e Lindow. No primeiro estudo (Mythology and Mythography), o pesquisador John Lindow fornece uma densa e magistral análise mitográfica dos estudos sobre a área nórdica, conciliando num mesmo texto tanto as críticas detalhadas das inúmeras fontes literárias como de suas diferentes interpretações e análises. Em outro capítulo deste livro (Eddic poetry), Joseph Harris detalha diversas interpretações codicológicas dos manuscritos da poesia éddica, as tendências literárias de interpretações, as métricas e seus estilos, questões de datações e origem dos poemas, a teoria oral e suas aplicações no mundo nórdico e por último (mas não menos importante), uma vasta e detalhada bibliografia final separada por tema e conteúdo, além de indicações bibliográficas para cada fonte primária.
Algumas das mais elegantes e paradigmáticas coletâneas de estudos sobre a Mitologia Nórdica foram editadas por Paul Acker e Carolyne Larrington (The Poetic Edda: essay on Old Norse Mythology, 2002 e Revisiting the Poetic Edda: Essays on Old Norse Heroic Legend, 2011). A primeira tem pelo menos quatro estudos indispensáveis para todos os pesquisadores: a escritora Svava Jakobsdóttir realiza uma brilhante análise do hidromel da poesia; Joseph Harris examina o tema das maldições na poesia éddica; Preben Sørensen realiza o mais famoso estudo sobre a pesca da serpente do mundo pelo deus Thor; Thomas Hill analisa o poema Rígstula. No segundo livro, outros estudos são igualmente importantes, como a análise do dragão nórdico nas artes, por Paul Acker, bem como Judy Quin analisando o Gróttasöngr, entre outros.
Em língua portuguesa o melhor recurso bibliográfico é o Dicionário de Mitologia Nórdica: símbolos, mitos e ritos, publicado pela editora Hedra em 2005. Contando com a participação de 22 pesquisadores nacionais e estrangeiros, 210 verbetes e mais de quarenta ilustrações. O dicionário detalha amplamente os mais variados deuses, deusas, narrativas, localidades, fontes primárias, temas, símbolos, sagas, apresentando em cada verbete específico indicações bibliográficas extremamente atualizadas.
Recursos da internet: alguns sites (a exemplo do Germanic Mythology, fornecem ampla variedade de documentos para pesquisa, de obras analíticas desde o século XVIII até os nossos dias (Scholarship), dicionários e ferramentas linguísticas (Reference Works), narrativas e imagens artísticas (Retelling & illustration galleries). The norse mythology blog é outro local com arquivos e seções interessantes. Em língua portuguesa o melhor recurso online é o site do NEVE (Núcleode Estudos Vikings e Escandinavos) com acesso a diversos livros, artigos, eventos, dissertações e teses, periódicos e ensaios sobre Mitologia Nórdica.
7. Conclusão: a pesquisa de Mitologia Nórdica no Brasil
Fornecemos ao longo deste artigo os principais instrumentos bibliográficos para o estudo das fontes da Mitologia Nórdica, principalmente aos estudantes de graduação e pós-graduação em Ciências Humanas e mais especialmente, aos estudantes de Ciências das Religiões. Com o tempo, os interessados podem iniciar seus projetos de pesquisa na Escandinavística.
Não é fácil escolher um bom tema para pesquisa, mas isso não significa que é impossível. Para o iniciante nos estudos nórdicos, pode parecer muito complicado eleger um assunto que seja original, uma abordagem inédita ou uma problemática que poucos tenham analisado, mas com a experiência, as leituras e o avanço nas pesquisas, o estudante vai perceber que existem ainda muitas possibilidades de investigação. Uma sugestão é na medida em que for lendo as fontes da Mitologia Nórdica, escolhendo algum método de análise e lendo as bibliografias secundárias, entre em contato com os escandinavistas do NEVE e troque informações ou solicite auxílio nesta ocasião. O intercâmbio em muitos casos pode auxiliar muito a escolha de temas e abordagens, especialmente dentro da academia brasileira e suas diversas possibilidades, especialmente nas Ciências das Religiões, História e Letras.
Quase tão importante quanto escolher uma fonte, um recorte espaço temporal e uma perspectiva teórica, é definir um método de pesquisa. Geralmente os estudantes brasileiros de mitologia acabam convergindo para algum autor da fenomenologia, visto que é a vertente mais traduzida até hoje em língua portuguesa. Mas existem outras opções, mais interessantes e coerentes, como o estruturalismo e pós-estruturalismo, a Escola de Paris, a Nova Mitologia Comparada, a História das Religiões Italiana, entre outras.
Mas acima de tudo deve-se manter a perseverança. A Escandinavística no Brasil ainda é um campo não consolidado e muitos professores universitários ainda percebem com desconfiança qualquer interesse no estudo dos mitos nórdicos. Neste sentido, o melhor campo de pesquisa e atuação é o das Ciências das Religiões, com diversos cursos de graduação e pós-graduação em nosso país. Pesquise o que goste, mas também seja ponderado e não abandone suas metas. No fim, o resultado pode ser alcançado.
Não existem cursos de pós-graduação com foco ou ênfase objetiva nos estudos de Mitologia Nórdica, ao menos no Brasil. A possibilidade é ingressar em algum mestrado ou doutorado acadêmico em áreas genéricas como História, Ciências Sociais ou Letras – mas principalmente Ciências das Religiões - e ter o projeto de pesquisa voltado para o estudo de alguma narrativa mítica da área escandinava. A maior dificuldade é encontrar algum professor cadastrado em algum programa que tenha interesse em orientar esse tema, visto que grande parte dos medievalistas tem outros temas de pesquisa.
Atualmente o Programa de Pós-graduação em História da UFRN está abrindo espaço para projetos de mestrado e doutorado em temas nórdicos antigos e medievais, clique aqui para maiores informações.
O curso com mais pesquisas defendidas e em andamento sobre Mitologia Nórdica a nível de mestrado e doutorado é o Programa de Pós-graduação em Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba.
Referências Bibliográficas:
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BOULHOSA, Patricia Pires. A *mitologia escandinava de Georges Dumézil: uma reflexão sobre método e improbabilidade. Brathair 6(2), 2006, pp. 3-31.
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LANGER, Johnni. Teorias e métodos para o estudo da Mitologia Nórdica. Rever 18, 2018.
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FONTE: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos/NEVE
LANGER, Johnni. Uma introdução às fontes da Mitologia Nórdica. NEVE. João Pessoa, 18 de nov. de 2018. Disponível em: <http://neve2012.blogspot.com/2018/11/uma-introducao-as-fontes-da-mitologia.html>. Acesso em: 07 de mar. de 2022.
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