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O póstumo Ragnarǫk de Þórr

Atualizado: 17 de jan. de 2023

Estávamos no terceiro inverno seguido de muito frio, parecia um frio infinito o qual achávamos que nunca cessaria, meu pai Óðinn, sentiu que era o presságio para a funesta profecia, onde os hermenn de Valhöll enfrentariam finalmente a maior de todas as batalhas contra o exército de Loki, quem já foi meu amigo, e os espectros de Hel.


Logo que meu pai mencionou o Ragnarǫk, minha adrenalina subiu, as chamas em meus olhos aumentaram; parecia que meu corpo todo havia se tornado ainda mais forte e que meu amado e inseparável martelo finalmente fazia parte de mim, mas também o medo e uma ansiedade incontrolável dominavam meu ser.


Emocionado corri para casa e pedi para minha mulher, Sif, e meus filhos se protegerem, pois o mais terrível dos embates estava próximo. Não obstante, passei aquele último dia junto de minha família: brinquei, ensinei lutas e truques aos meus filhos, dedicando aquela noite fria e inesquecível à minha mulher, sem dúvidas a mais bela de todos os nove mundos. Na manhã seguinte me despedi de Sif, quem disse:


— Þórr meu amor, boa sorte e que Óðinn esteja contigo!


E essa foi a última vez que os vi em vida.


Rumei para Ásgarðr, onde encontrei-me com o meu pai e meus irmãos, logo começamos a convocar os melhores hermenn de Valhöll, dentre eles o poderoso Sigurðr, cujo pai recebeu de Óðinn sua espada. Aos poucos os convocados começaram a chegar e rapidamente um her com milhares de homens havia sido formado, neste ínterim, estratégias de batalhas e as melhores armas foram forjadas. Passaram-se algumas horas e enquanto ajudava meu pai a selar o seu cavalo de oito patas, veio a notícia de que eu finalmente enfrentaria minha maior rival, a serpente do mundo, Jǫrmungandr, eu realizaria um sonho quando a vencesse. Tão logo o recado chegou, minha vontade que já era grande tornou-se ainda maior, e os segundos que já pareciam horas, passaram a ser dias, tamanha minha fome pelo Ragnarǫk e a ansiedade pela realização da minha aspiração.


Diante a muita conversa e agitação, como se numa ordem de Óðinn o silêncio pairou, podia-se então ouvir o som da terra exalando fogo e os últimos animais correndo pelos campos desesperados por suas vidas, quando de repente, um som oriundo da Bifröst, proferido por Heimdallr quase nos ensurdece: era o anúncio de que o Ragnarǫk começara. Sem pestanejar, meu pai deu a ordem para que nossos her avançassem furiosamente. Uma alegria inexplicável se apossou de mim, segurei o Mjǫllnir com todas as minhas forças e me joguei ao destino. Porém, antes de alcançar a ponte, ela cedeu derrubando e matando muitos de nossos inimigos. Gritos de felicidade agitavam nossos her. Depois de toda aquela euforia, decidimos avançar e ir ao encontro de nossos rivais, começamos então a descer a colina que separava os outros mundos de Ásgarðr.


Chegando ao campo de batalha encontramos pedaços dos espectros e jǫtnar que haviam caído da Bifröst. Segundos depois começaram as agressões, dezenas de assassinos e jǫtnar começaram a nos cercar, portanto agarrei firmemente meu martelo e logo desferi alguns golpes. Foram horas de embates, vencendo um a um de meus adversários.


The Wild Hunt of Odin - Pintura de Peter Nicolai Arbo
The Wild Hunt of Odin - Pintura de Peter Nicolai Arbo

Dentro de um mar de sangue, já todo ensopado dele, líquido este, meu e dos outros, finalmente avistei Jǫrmungandr. Corri matando dezenas daqueles monstros ao encontro daquela maldita víbora e no caminho vi meu pai, o mais poderoso dos goðar sendo devorado vivo, junto de seu cavalo pelo lobo gingante Fenrir, filho de Loki (aquele maldito traiçoeiro) vi também Loki e Heindallr morrendo, um pela mão do outro, em mais uma das grandes rixas particulares daquela fatídica noite, onde nem mesmo a lua ousou aparecer.


Finalmente, diante de Jǫrmungandr, vi aquela bocarra aberta pronta para dar o bote, com aquele veneno espesso escorrendo por suas presas, cada escama maior que um bom escudo, para qualquer outro uma figura digna de medo. Após alguns instantes frente a frente àquele maldito réptil, meu sangue fervia, minhas veias saltavam de forma inacreditável e não pude esperar nem mais um maldito segundo e o ataquei.


No mesmo tempo em que lutávamos a desgraçada aproveitava-se de seu imenso corpo para esmagar alguns dos nossos hermenn. Tanto ela quanto eu, sujos de sangue alheio, lutávamos incessantemente, todavia, em um momento de descuido, ela afrouxou a parte de seu corpanzil que me cercava e neste instante, desferi com todas as minhas forças, em meio a raios e trovões, o mais poderoso golpe que já dei (neste momento todos pararam para ver o embate), acertando o meio daquela cabeça, esmagando, esmagando não, pulverizando-a.


Realizei assim meu maior sonho, porém, um minúsculo pedaço daquelas prezas, um pouco maior que o meu polegar, acertou o meu peito envenenando-me, e aos poucos, minhas forças foram sumindo e o largo sorriso de vitória em meu rosto desaparecendo. Ajoelhado ainda vi meu irmão caçula, Víðarr, sucessor de meu pai, vingando-o, cortando em dois de dentro para fora, aquele maldito canino gigante, porém, segundos depois faleci, aos pés de meus dois irmãos, que ainda viviam, mergulhado em um mar de sangue sobre os corpos de outros guerreiros mortos.


Depois de morto reencontrei meu pai, meus irmãos, amigos e hermenn em um novo plano e de lá vimos o desfecho daquela terrível batalha que foi o Ragnarǫk. Observamos também a queda da Iggdrasill e o início de uma nova era, era esta conduzida por Víðarr, meu irmão, por meus filhos, pela Freyja e pôr fim a transformação daquele mundo, neste, no qual vocês vivem e os assisto.


por Paulo Marsal


FONTE: Anexo - Oluap, o Guerreiro

MARSAL, P.H.M. Oluap: o Guerreiro. São Paulo: Dialógica Editora, 2015. (clique aqui e saiba mais)


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