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MULHERES DA ERA VIKING: UMA HISTÓRIA NEGLIGENCIADA

Registros mostram que as mulheres “vikings” podiam possuir e administrar propriedades, além de se divorciar.


Mulheres da Era Viking: uma história negligenciada
Freyja, 1905 por Emil Doepler. — Crédito da Imagem: Look & Learn / Bridgeman Images

Índice


Mulheres "Vikings"

Na ilha de Björkö, no Lago Mälaren, na Suécia, há uma paisagem de aparência curiosa, repleta de montes gramados e suavemente ondulados, dos quais mais de 1.000 enterros foram descobertos. Este campo cheio de túmulos é parte de Birka, um assentamento viking que foi ocupado entre 750 e 950 d.C.


Quando o esqueleto marcado como “Bj 581” foi escavado lá pela primeira vez no final do Século XIX, assumiu-se que era de um homem por causa das armas enterradas ao lado dele, eram um machado, espada, lanças e uma aljava de flechas. Este esqueleto foi apelidado como o “Guerreiro de Birka". Essa identificação foi questionada na década de 1970, pois o antebraço esbelto e a entrada larga da pelve são características femininas, mas somente em 2017 que o DNA extraído de um dente mostrou dois cromossomos X, comprovando que se trata de a “Guerreira de Birka”.


Os registros sobreviventes de lei mostram que as mulheres vikings podiam possuir e administrar propriedades, além de se divorciar, caso tratadas indevidamente. Em Birka, pesos e balanças de comerciantes foram encontrados em mais túmulos femininos do que masculinos. O navio Oseberg — incrivelmente preservado — exibido no Museu do Navio Viking em Oslo, foi encontrado no túmulo de duas mulheres de alto status.


Os vikings até veneravam as mulheres como Deusas, a exemplo de Freyja, uma Ásynja ligada à soberania, abundância, colheita e longevidade, também relacionada ao sol, ao mar, a falcoaria e a criação doméstica de gatos — Leia o artigo "Freyja", criado em parceria com #caminhonórdico para aprender de fonte segura.


Dado o que sabemos agora sobre o lugar das mulheres na sociedade da era viking, “o túmulo em Birka de repente parece menos uma anomalia”, escreve a acadêmica de Oxford, Janina Ramirez, em seu livro “Femina: a new history of the Middle Ages, through the women written out of it (algo como ‘Femina: uma nova história da Idade Média, através do ponto de vista das mulheres’) — a palavra femina era uma anotação usada nas bibliotecas pós-Reforma* para marcar livros escritos por mulheres e, portanto (para igraja da época), ‘menos dignos de preservação’ —”, considerado um registro interdisciplinar e revisionista das mulheres da Idade Média.


Assista ao episódio do VikingCast sobre o “Papel das Mulheres na Era Viking” para aprender mais sobre o tema:



Æthelflæd e sua filha

Se algumas figuras femininas históricas foram ignoradas involuntariamente, outras foram deliberadamente apagadas por aqueles ameaçados por seus poderes. O nome de Alfredo, o Grande, o Rei de Wessex, do Século IX, tornou-se lenda, mas poucos sabem falar de sua filha, Æthelflæd. Os nobres elegeram Æthelflæd como a governante da Mércia (as modernas Midlands) após a morte de seus pai e marido — um evento raro na história medieval. Ela negociou e comandou a lealdade dos vikings. Seus exércitos triunfaram em algumas das batalhas mais importantes do início do Século X, conquistando Derby e Leicester. Os vikings de York estavam próximos a cair e, se ela não tivesse morrido, Æthelflæd seria venerada como a mulher que unificou a Inglaterra. Um poema do Século XII a lembra assim:


Heroica Æthelflæd! Grande em fama marcial, um homem em valor, embora uma mulher em seu nome: suas hostes por natureza guerreiras você obedeceu, conquistando ambas, embora nascida uma donzela.

Antes de sua morte, Æthelflæd garantiu que sua coroa fosse à filha, Ælfwynn — a única sucessão de uma mulher para outra do início da Inglaterra medieval. E, no entanto, a Senhora dos Mércios é pouco conhecida. Seu irmão Eduardo, que sucedeu a Alfredo como rei de Wessex, “suprimiu ativamente sua reputação”, por medo de que seu poder pudesse rivalizar com o dele, e destituiu Ælfwynn do trono.



Grandes Rainhas e suas façanhas

Há também outras grandes mulheres pouco conhecidas como a Jadwiga, Rainha da Polônia no Século XIV — uma das duas mulheres da Europa a serem intituladas “Rex” em vez de “Regina” (a outra era sua irmã Mary, Rainha da Hungria) — e a Margery Kempe, mística cristã e contemporânea de Joana d'Arc, cujo livro é considerado por alguns, a primeira autobiografia escrita em inglês e cujas peregrinações a levaram da Noruega ao Oriente Médio.


A rainha Cynethryth, por exemplo, governou conjuntamente a Mércia com seu marido Offa (da fama de Offa's Dyke) por 25 anos no Século VIII, sendo a única mulher medieval ocidental a ter sua moeda cunhada — a mais antiga representação conhecida de uma rainha inglesa. Ela assinava a “Rainha dos Mércios pela Graça de Deus”, muito antes do conceito de direito divino ser consagrado ao Reis, como no lema do monarca inglês, Henrique V, “Dieu et mon droit (Deus e meu direito)”.


As mulheres de Deus

À época, havia um papel expansivo e estimulante para as mulheres na Igreja. Antes que os conventos fossem fechados durante a Reforma, a vida monástica permitia que as mulheres nobres “contornassem os casamentos e, em vez disso, formassem os próprios centros de aprendizado, onde poderiam ser ricas, respeitadas e lembradas”. Os primeiros conventos medievais também não eram locais de austeridade como podemos imaginar: achados arqueológicos de um mosteiro duplo em Whitby incluem grampos de cabelo decorativos, livros com capas de ouro e um pente com runas.


Sobre a fundadora do mosteiro, Hild, Beda, o Venerável — considerável o “Pai da História Inglesa” — escreveu que os “reis e príncipes buscavam o seu (Hild) conselho”. Em 664, ela presidiu o consequente Sínodo de Whitby, no qual a igreja da Nortúmbria foi alinhada com a católica de Roma; cinco homens instruídos por ela se tornaram bispos.


Hildegard de Bingen, uma abadessa alemã do Século XII que teve visões desde tenra idade e escreveu várias obras de teologia, documentando e interpretando-as, é talvez a mais notável das mulheres de Deus. Uma polímata, cuja vida poderia encher um livro, era uma compositora, escritora e mística, que se correspondeu com três papas. Suas palavras são surpreendentemente modernas: em um tratado ela dá instruções para realizar um aborto; em outra, incentiva o consumo de cerveja, pois “engorda a carne e dá uma bela cor ao rosto”. Ela também escreveu graficamente sobre sexo, desafiando os preconceitos da casta abadessa — a primeira descrição conhecida do orgasmo feminino foi de Hildegard e, 1150. Em seu tempo, suas obras não foram rejeitadas ou censuradas, mas sim estudadas e endossadas ​​pelo Papa.


Considerações Finais

Existem paralelos entre os medos dos homens medievais que propagandeavam e embelezavam as narrativas masculinas para diminuir mulheres como Æthelflæd, e os historiadores vitorianos que preferiam o estudo dos Grandes Homens e não conseguiam reconhecer um esqueleto feminino, entretanto, é claro que há valor em reconhecer as mulheres anteriormente negligenciadas como as grandes pensadoras e formadoras de nações que foram.


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* De acordo com Edward McNall Burns, a Reforma compreendeu duas fases principais: a “Revolução Protestante” ou “Reforma Protestante”, que irrompeu em 1517 e levou a maior parte da Europa setentrional a separar-se da igreja romana e a “Reforma Católica”, que alcançou o auge em 1560.


A Reforma Católica, foi um movimento criado pela Igreja Católica em 1545 ao convocar o Concílio de Trento para estabelecer entre outras medidas, a retomada do Tribunal do Santo Ofício, a criação do "Index Librorum Prohibitorum" — uma relação de livros proibidos pela Igreja — e o incentivo à catequese dos povos do Novo Mundo. Outras medidas incluíram a reafirmação da autoridade papal, a manutenção do celibato eclesiástico, a reforma das ordens religiosas, a edição do catecismo tridentino, reformas e instituições de seminários e universidades, a supressão de abusos envolvendo indulgências e a adoção da Vulgata como a tradução oficial da Bíblia.


FONTE: The New Statesman

BAILEY, Pippa. When women were warriors: the forgotten female leaders of the Middle Ages. The New Statesman. Londres, 17 de ago. de 2022. Disponível em: <https://www.newstatesman.com/culture/books/2022/08/femina-review-janina-ramirez-history-middle-ages>. Acesso em 18 de ago. de 2022. (Livremente traduzido e adaptado pela Livros Vikings).


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